A preocupação crescente com as questões sociais e ambientais ganharam maior proporção nos contextos educacionais, governamentais e corporativos ao longo dos anos. Apesar desses contextos possuírem desafios distintos, todos possuem potencial para efetivar ações em prol do meio ambiente e da humanidade. Essas ações serão realizadas por pessoas que se capacitarem para serem agentes de mudança e, por isso, a crescente procura por trabalhos e empregos que geram impacto positivo é uma realidade no mercado de trabalho atual.

Ao pensar sobre o futuro do trabalho, devemos considerar o contexto ambiental, social e econômico no qual vivemos. A ciência nos ajuda a compreender sobre a realidade atual desse contexto através de estudos, como o publicado por Bologna e Aquino em 2020. Segundo o artigo publicado por eles na revista Nature, se a população mundial continuar crescendo e se continuarmos a explorar os recursos naturais da maneira como estamos fazendo, a humanidade terá entre duas a quatro décadas de sobrevivência no planeta.  

“Nosso modelo mostra que um colapso catastrófico na população humana, devido ao consumo de recursos, é o cenário mais provável da evolução dinâmica com base nos parâmetros atuais [...] De fato, dando um sentido muito amplo ao conceito de civilização cultural como uma civilização não fortemente regida pela economia, sugerimos que somente civilizações capazes de passar de uma sociedade econômica a uma espécie de sociedade “cultural” em tempo hábil podem sobreviver.

Relatórios de organizações internacionais também nos ajudam a avaliar este contexto. Um dos mais importantes para entender o contexto atual é o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, mais conhecido como relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), um órgão criado pela ONU para divulgar dados científicos sobre as mudanças climáticas e apoiar tomadores de decisão de políticas públicas referentes ao assunto. Segundo o relatório publicado em 2022, 40% das pessoas do mundo são altamente vulneráveis às mudanças climáticas.

Outra pesquisa importante é a do Fórum Econômico Mundial. O relatório publicado esse ano, chamado The Global Risks Report 2022, informou que as mudanças climáticas são a ameaça número um para o mundo a longo prazo. O relatório considera que os países que continuarem dependentes de setores econômicos associados a energias fósseis terão custos mais elevados relacionados à emissão de carbono, resiliência reduzida, dificuldade de acompanhar inovações tecnológicas e dificuldades em acompanhar acordos comerciais. Dessa forma,  desencadeando instabilidade econômica, aumentando o desemprego e tensões sociais e geopolíticas.

O papel social, ambiental e econômico das carreiras verdes

Percebendo a necessidade iminente de mudanças nos padrões de vida e consumo, a população passou a exigir, cada vez mais, que as empresas fornecedoras de produtos e serviços tenham posicionamentos claros e ações diretas no combate às questões climáticas. Consequentemente, as instituições passaram a enxergar essas demandas e reafirmar seus compromissos e agendas ambientais.

Analisando os riscos aos quais estamos expostos, fica evidente a necessidade de nos prepararmos para viver as consequências que a exploração indevida dos recursos naturais causam. É claro que, levando em consideração os níveis de desigualdades econômicas e deficiências educacionais atuais, não podemos esperar que todos estejam na mesma página e entendam a necessidade por trás dessas mudanças que estamos nos referindo.

Além das pessoas estarem mais atentas ao que causa impactos ambientais e sociais negativos, elas também estão preocupadas em trabalhar para efetivar mudanças que beneficiam a natureza e a sociedade. As carreiras verdes são carreiras onde trabalhos e empregos respeitam os critérios de trabalho decente e geram impactos ambientais e sociais positivos. São carreiras que embasam ações nos conceitos de sustentabilidade, regeneração, economia verde e outros temas relacionados.  

Por falar em economia verde, o Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em conjunto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o segmento da economia verde pode gerar cerca de 15 milhões de empregos diretos e indiretos na América Latina e Caribe, até 2030.

O diretor regional da OIT, José Manuel Salazar-Xirinachs, afirmou sobre os impactos ambientais e esforços da minimização:

“Os desafios colocados pela sustentabilidade ambiental são uma das forças poderosas que estão moldando o futuro do trabalho nesta região, e é por isso que é necessário tomar medidas para maximizar seus benefícios e enfrentar efetivamente suas ameaças.”

Educação para a mudança efetiva

Ao pensarmos no quão essencial é ter essa compreensão para ser capaz de agir, se tornou cada vez mais imediato uma reestruturação curricular pedagógica para incluir tópicos relacionados às mudanças climáticas e impactos ao meio ambiente e a sociedade. No âmbito acadêmico, por exemplo, é papel das instituições de ensino superior inserir agendas ambientais e disciplinas obrigatórias para refletir e entender a importância da regeneração dos sistemas naturais.

De forma geral, deve ser uma preocupação e compromisso pedagógico a formação de mais do que profissionais, cidadãos conscientes e sensíveis aos desafios atuais e futuros. Isso inclui compreender como um conhecimento técnico de determinada profissão pode contribuir para a construção de um futuro melhor, e entender sobre temas como justiça climática, racismo ambiental e o papel de políticas públicas nesse cenário.

As instituições de ensino estão formando profissionais para qual futuro do trabalho? Será que elas entenderam que precisam formar profissionais para um futuro que requer competências técnicas, sociais e emocionais para enfrentar vulnerabilidades econômicas, ambientais e sociais?

Os profissionais atuais e futuros estarão mais preparados à medida que investirem em carreiras verdes. Ou seja, planejar uma carreira verde, independentemente se você está no início profissional ou se precisará “esverdear” sua trajetória, é uma questão de empregabilidade e um comprometimento em colaborar para a restauração dos sistemas ambientais, econômicos e sociais.

Além disso, escolas e universidades podem realizar o papel de reforçar comportamentos pró-ambientais. Embora saibamos da importância de cuidar do meio ambiente e dos temas de sustentabilidade, ESG e mudanças climáticas estarem sendo mais discutidos nos últimos anos, ainda carecemos de ações individuais, coletivas e governamentais efetivas.

Um estudo realizado com jovens americanos mostrou que, embora estejam mais preocupados com os impactos das mudanças climáticas do que as gerações anteriores, possuem dificuldades de realizar comportamentos que efetivem ações pró-ambientais. Nesse sentido, escolas, instituições de ensino superior e universidades podem criar um ambiente educacional que promova ações de cuidado com o meio ambiente e com a comunidade, com o intuito de incentivar ações comprometidas em gerar impactos reais, além de promover conhecimentos que embasam essas ações.

Transformar a realidade para alcançar um futuro é responsabilidade de todos, individual ou coletivamente. Promovendo uma educação de qualidade, que incentive a busca por conhecimento, trate com sensibilidade às questões ambientais e sociais e forme profissionais capacitados para ingressar em carreiras verdes, podemos avançar na minimização desses impactos.

Referências

Bologna, M. & Aquino, G. (2020). Deforestation and world population sustainability: a quantitative analysis. Nature Cientific Reports, 10:7631. DOI: https://doi.org/10.1038/s41598-020-63657-6 1

Climate Change 2022: Impacts, Adaptation and Vulnerability, https://www.ipcc.ch/report/sixth-assessment-report-working-group-ii/

The Global Risks Report 2022, 17th Edition, World Economic Forum: https://www3.weforum.org/docs/WEF_The_Global_Risks_Report_2022.pdf

Gray, S. G.; Raimi, K. T.; Wison, R.; Árvai,   J. (2019). Will Millennials save the world? The effect of age and generational differences on environmental concern. Journal of Environmental Management. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2019.04.071

Silva, D. C. (2020). Carreiras verdes: estudo sobre profissionais que contribuem com o desenvolvimento sustentável. Dissertação de Mestrado, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil. Disponível em: http://www.bu.ufsc.br/teses/PPSI0900-D.pdf

Autoria: Daniela Clivatti - Psicóloga pela UFRGS e mestre em desenvolvimento de carreira pela UFSC. Atua como consultora de carreira há mais de 10 anos, tendo como uma especialidade as carreiras verdes. Atualmente também atua como analista de recursos humanos.


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