A educação, por mais plural e diversa que deva ser, ainda sim precisa seguir regras e processos em todo território nacional. Dentro dessas normativas é estabelecido, por exemplo, a forma de ingresso dos alunos, como será direcionado (para qual ou quais objetivos) o processo de ensino e aprendizagem, quais as metodologias que devem ser empregadas, enfim.

Um desses pontos é justamente a arquitetura curricular utilizada em todo o caminho educacional (desde o ensino fundamental, passando pelo médio até o superior), diferenciando-se em cada um dos níveis de ensino. Hoje vamos falar um pouco mais sobre a arquitetura curricular dentro das Instituições de Ensino Superior e o que já temos (e se espera) em termos de transformações.

Como é o currículo das universidades brasileiras


É claro que cada instituição terá as suas próprias diretrizes, mas uma vez que existe uma regulamentação superior que vem através do Ministério da Educação, é obrigação das IES seguirem o que é dito pelo MEC. Em resumo, as Universidades não podem oferecer menos do que o Ministério determina.

Dito isso, e segundo a Lei de Diretrizes e Bases Para a Educação Nacional, é papel do ensino superior estimular a criação cultural, desenvolver o espírito científico e o pensamento reflexivo nos alunos, bem como formar diplomados nas diferentes áreas do conhecimento com capacidades de se inserir nos mais diversos setores profissionais e participar ativamente do desenvolvimento da sociedade brasileira.

Para tratar de assuntos mais voltados à prática dos currículos de educação superior como um todo foi desenvolvido, em 1999, o Plano Nacional de Graduação (PNG). Essa normativa apresenta que as Instituições de Ensino Superior têm como grande desafio a superação das práticas rígidas dos currículos mínimos.

“Traduzida em cursos com elevadíssima carga horária, número excessivo de disciplinas encadeadas em sistema rígido de pré-requisitos, em cursos estruturados mais na visão corporativa das profissões do que nas perspectivas da atenção para com o contexto científico.”

Uma das entidades que atuou conjuntamente com o MEC na construção de uma nova estratégia para as diretrizes curriculares do ensino superior brasileira foi o Fórum Nacional de Pró-reitores de Graduação (ForGrad). Em seu levantamento sobre a situação atual das universidades, o órgão ressaltou que foi percebido uma tentativa de reprodução das características dos currículos mínimos em diversas instituições, empregando a rigidez e fixação dos conteúdos de forma rasa.

“Parece que, em parte, a intenção é utilizar as diretrizes curriculares de determinado curso como instrumento de avaliação ou para garantir a qualidade do curso.”

Um novo caminho educacional


Quando pensamos no futuro da educação, inúmeras possibilidades de caminho passam à mente, e todas elas têm um ponto em comum: a certeza de que o ensino precisa ser mais colaborativo e interativo. Mas mesmo tendo a certeza disso, ainda existem dúvidas de como atingir esse ponto enquanto professor, coordenador e instituição.

A transformação dos currículos, que ao longo desse conteúdo denominamos como uma nova arquitetura curricular, é a forma mais eficaz de reestruturar as instituições e engajar os estudantes para uma nova realidade pedagógica. Essa conversão, muito embora precise seguir uma normativa legal para acontecer, é também bastante subjetiva a depender da visão e objetivos da IES.

Alguns pontos são essenciais, portanto, para que a transformação curricular aconteça. Entenda alguns deles abaixo:

Centralidade do Aluno

A instituição precisa estar ciente que todas as decisões (estruturais, pedagógicas e/ou tecnológicas) impactam diretamente o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Por isso, toda e qualquer escolha precisa ser debatida não apenas com o conselho decisor, mas também com quem se conecta diretamente com os alunos, como os professores tutores, coordenadores de curso e coordenadores pedagógicos;

Capacitação do corpo docente

Para ser considerada uma “nova arquitetura curricular”, não basta apenas inserir novas tecnologias e metodologias - tudo precisa fazer sentido com a proposta institucional. Além disso, é estratégico garantir a formação de professores.  O corpo docente necessita de capacitações, cursos de qualificação e qualquer outra forma possível de aprimoramento pedagógico para que o que está escrito no papel possa ser traduzido na prática.

Inovação nas avaliações

A avaliação dos estudantes deve ser muito mais do que aplicar provas individuais no modelo tradicional de ensino. É necessário observar muito bem tanto as hard skills quanto o desenvolvimento subjetivo de soft skills. Afinal, como defendia Paulo Freire, um dos maiores educadores do mundo, a avaliação da aprendizagem deve promover a consciência crítica por meio do diálogo livre, permanente e democrático, caracterizando-se como um processo dinâmico e coletivo, fruto do compartilhamento entre os sujeitos.

Flexibilidade e personalização

O currículo a ser aplicado precisa ser flexível, para que os alunos tenham a possibilidade de explorar e trabalhar suas habilidades e competências para além da sala de aula. Investindo, por exemplo, na construção de trilhas de aprendizagem personalizadas, em que os alunos podem escolher assuntos de interesse para se aprofundar, a instituição incentiva cada vez mais o desenvolvimento individual dos alunos ao mesmo tempo que promove mais engajamento.

Hibridização

E por fim, mas não menos importante, a hibridização do currículo é uma das maiores tendências educacionais para os próximos anos e investir nesse modelo só tem a beneficiar as instituições. Muito disso se deve a percepção de que para desenvolver conhecimentos não é preciso estar sentado em uma classe dentro de uma sala de aula. Ter a liberdade de escolha não apenas torna o processo de aprendizagem mais interessante, como também prepara esse futuro profissional para encarar uma nova realidade no mercado de trabalho.

Como a estruturação dos currículos deve ser?


Segundo Luciano Sathler, membro do Comitê de Educação Básica da ABED e o primeiro Pró-Reitor de Educação a Distância do Brasil, é preciso alinhar o currículo e as metodologias de ensino às demandas reais da sociedade e do mundo do trabalho.

“Hoje há um descompasso entre a maioria das IES e o restante do mundo. Conteúdos e práticas voltadas para o passado, ministrados por docentes que dialogam pouco com o setor produtivo e IES que geram diplomados que chegam muito despreparados nas organizações, onde gestores sentem a necessidade de ensinar tudo a quem pouco sabe, na prática.”

Conforme estipulado pela ForGrad nas Diretrizes Curriculares para Cursos de Graduação, existem alguns princípios gerais para auxiliar as instituições na hora de reformular seus currículos. São eles:

  1. Não deverá ser especificada carga horária mínima;
  2. Não deverá ser especificado tempo mínimo ou máximo de integralização.
  3. Não deverão ser permitidas listas exaustivas de conteúdos, que serão agrupadas em campos de estudos amplos.
  4. Não deverão ser especificadas, em nenhuma hipótese, percentuais para a distribuição de cargas horárias e conteúdos.
  5. Não poderá haver restrição nem obrigatoriedade de nenhuma metodologia de ensino/aprendizagem.
  6. Não deverão ser especificadas condições de oferta.  

O documento ainda afirma que o Projeto Pedagógico das Instituições, uma vez que é ação política, deve ser pautado na competência e na habilidade, tendo como perspectiva a formação contínua.

“O Projeto Pedagógico da Graduação deve estar sintonizado com nova visão de mundo, expressa nesse novo paradigma de sociedade e de educação, garantindo a formação global e crítica para os envolvidos no processo, como forma de capacitá-los para o exercício da cidadania, bem como sujeitos de transformação da realidade, com respostas para os grandes problemas contemporâneos.”

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