As diversas transformações que a sociedade passou nas últimas décadas impactou a forma como vivemos, nos relacionamos com o outro e com o ambiente como um todo. Na educação esse processo não poderia ser diferente, afinal o que nos era “comum” em termos de pedagogia e metodologias de ensino, entrou em desuso rapidamente e, hoje, já pode ser considerado como ultrapassado.

Muito disso se deve às constantes inovações tecnológicas e uma nova visão acerca da eficiência do nosso processo de ensino e aprendizagem. Começou-se a colocar em pauta o tipo de profissional que as instituições estavam formando em detrimento das características necessárias para se ter sucesso no mercado de trabalho.

As habilidades técnicas (foco do modelo tradicional de ensino) passaram a não ser mais a exigência principal na hora de contratar um profissional, uma vez que as empresas voltam o olhar para aqueles com habilidades socioemocionais, as chamadas soft skills. Em outras palavras, são essas capacidades e competências que um aparelho tecnológico não pode desenvolver, sendo então exclusivas do ser humano.

De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa norte-americana Gallup, 91% dos empregadores entrevistados acredita que “para obter sucesso em suas empresas, a capacidade demonstrada de um candidato de pensar criticamente, comunicar-se com clareza e resolver programas complexos é mais importante do que seu curso de graduação”.

Entendendo isso fica muito mais fácil visualizar que tudo se transformou e, da mesma forma, seguirá mudando através das mais variadas inovações. Mas tratando especificamente do universo da educação, o que se pode esperar e quais os caminhos possíveis daqui pra frente?

O novo aluno e o papel do professor

Deixando de lado a personalidade mais passiva em sala de aula, o aluno do futuro assume características muito mais expressivas de opinião, pensamento crítico e um protagonismo ativo que o torna a figura central na educação. Seguindo essa mesma lógica, o docente não é mais aquele personagem que praticamente expressa um discurso padrão para explicar um conteúdo específico, normalmente de forma oral ou com auxílio de um livro didático. Muito pelo contrário, o professor do futuro precisa também ser ouvinte para entender o que seus alunos precisam, curioso em modernizar suas metodologias e aberto às novidades.

O professor, é claro, não deve perder a sua figura de detentor do conhecimento, uma vez que para ensinar alguém é preciso dominar tal conteúdo, mas entendendo que esse conhecimento não é único e exclusivo do docente. A questão é como esse saber será passado e se o aluno terá a oportunidade de ser crítico em relação a ele para que possa construir o seu próprio pensamento. O aprendizado passa a ser, então, uma via de mão dupla em que o professor utiliza os seus conhecimentos técnicos e didáticos para que o aluno possa se desenvolver.

Justamente sobre essa educação bilateral, Paulo Freire defendia a ideia de que o educando precisa reconhecer-se como tal ao passo que se conecta com o educador, sendo este também um eterno aprendiz. Ou seja, é um processo de educação contínua que não se limita apenas a transmissão de um conteúdo em sala de aula.

“O educando precisa assumir-se como tal, mas assumir-se como educando significa reconhecer-se como sujeito que é capaz de conhecer o que quer conhecer em relação com o outro sujeito igualmente capaz de conhecer, o educador e, entre os dois, possibilitando a tarefa de ambos, o objeto de conhecimento. Ensinar e aprender são assim momentos de um processo maior – o de conhecer, que implica re-conhecer. “

Outro estudioso que falava muito sobre a relação aluno-professor foi o humanista e psicólogo norte-americano Carl Rogers, que voltou seu olhar justamente para a importância de se ter uma relação cheia de confiança e destituída de noções hierárquicas. Defendia que o aluno precisa estar no centro do processo de aprendizagem, com uma experiência significativa e tendo no professor o suporte e facilitação para seu desenvolvimento individual.

“Para uma aprendizagem adequada torna-se necessário que o aluno aprenda a aprender, quer dizer que, para além da importância dos conteúdos, o mais significativo é a capacidade do indivíduo interiorizar o processo constante de aprendizagem”

Back to the future of education

Em 2020 a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançou um estudo chamado De volta do Futuro da Educação - 4 cenários da OCDE para a escolaridade, com foco não apenas em mapear algumas tendências educacionais, mas também auxiliar professores e gestores no desenvolvimento de ações estratégicas para se adaptar às transformações.

Logo no começo do documento a OCDE aponta a importância da educação como uma forma de transformar realidades, e que precisa evoluir para continuar cumprindo sua missão de apoiar os indivíduos a se desenvolverem como pessoas, cidadãos e profissionais e para moldar a identidade e a integração de nossas crianças e jovens na sociedade.

“Em um mundo complexo e em rápida mudança, isso pode exigir a reorganização dos ambientes formais e informais de aprendizagem e reimaginar o conteúdo e a entrega da educação.  [...] Muito do nosso pensamento sobre o futuro é linear e baseado na extensão das tendências existentes atualmente. Mas as tendências desaceleram, aceleram, dobram e quebram. O futuro não pode ser observado passivamente. Deve ser discutido ativamente para aprender com ele e identificar e acordar ações para hoje. Imaginar múltiplos cenários para o futuro, portanto, reconhece que não há apenas um caminho para o futuro, mas muitos.”

Os quatro cenários da OCDE

Esses cenários desenhados pela Organização tem como base a expansão dos mercados de aprendizagem, o crescente investimento e papel das tecnologias digitais na conexão de pessoas, bem como seu impacto na personalização da aprendizagem. Além disso, também foi levado em consideração as discussões sobre como melhorar a motivação individual para aprender e reconhecer e aproveitar suas fontes informais e não formais de conhecimento.

Escolaridade estendida

Nesse primeiro cenário, temos uma expansão da participação na educação formal nos primeiros anos de vida dos indivíduos, havendo ainda um reconhecimento da educação como fundamental para a competitividade de mercado e boa parte dos países tem se esforçado para universalizar o acesso à aprendizagem formal desde os primeiros anos de vida até o ensino superior anterior.

“As escolas continuam a operar sob um modelo de sala de aula/individual para adultos, mas os horários são mais flexíveis com a adoção de métodos de ensino combinados e os limites rígidos entre as disciplinas acadêmicas tradicionais foram suavizados. O feedback para alunos, professores e pais é instantâneo, relatando o progresso do aluno e alertando sobre mau comportamento. Não é mais necessário parar e testar; em vez disso, avaliação e instrução ocorrem simultaneamente.”

Educação Terceirizada

No segundo cenário, as instituições escolares se fragmentam à medida que a sociedade passa a intervir diretamente na educação dos cidadãos. Ocorre uma grande experimentação em formas organizacionais , incluindo uma mistura de educação em casa, aulas particulares, aprendizado online e ensino e aprendizado baseados na comunidade.

“A aprendizagem ocorre por meio de arranjos mais diversificados, privatizados e flexíveis, sendo a tecnologia digital um fator-chave. O abandono das estruturas rígidas da escolarização tradicional oferece aos alunos maior flexibilidade para seguir seu próprio ritmo e potencialmente combinar o aprendizado formal com outras atividades. Neste sentido, uma maior escolha de programas de aprendizagem traduz-se em soluções de aprendizagem mais adaptáveis ​​às necessidades individuais e, potencialmente, mais alinhadas com o objetivo da aprendizagem ao longo da vida.”

Escolas como polo de aprendizagem

Existe, nesse cenário, novas competências exigidas pelo mercado de trabalho e uma educação muito mais baseada na experimentação, personalização e diversidade. A aprendizagem é contínua, é uma atividade de dia inteiro orientada por profissionais da educação, mas nem sempre ocorre dentro dos limites das salas de aula e escolas.

“As escolas permanecem, mas a diversidade e a experimentação são a norma. Abrir as “paredes da escola” conecta as escolas às suas comunidades, favorecendo formas de aprendizagem em constante mudança, engajamento cívico e inovação social. Dessa forma, diversos atores individuais e institucionais oferecem uma variedade de habilidades e conhecimentos que podem ser trazidos para apoiar o aprendizado do aluno.”

Aprenda a medida que avança

A nossa visão acerca da aprendizagem foi modificada de acordo com a vasta conectividade, uma extensa e rica infraestrutura digital e abundância de dados. A estrutura escolar e curricular gradualmente desaparece em decorrência das oportunidades gratuitas e digitais de formação profissional. A educação acontece em todos os lugares, a qualquer hora. As distinções entre aprendizagem formal e informal não são mais válidas, pois a sociedade se volta inteiramente para o poder da máquina.

“Este cenário esboça um mundo onde todas as fontes de aprendizagem se tornam “legítimas” e a educação das pessoas avança ao alavancar a inteligência coletiva para resolver problemas da vida real. Parte da infraestrutura do antigo sistema escolar pode permanecer, embora sua função seja muito mais aberta e flexível. Não há requisitos obrigatórios, pelo menos presencialmente e com horários fixos. Os locais de aprendizagem acolhem as crianças em regime de drop-in, assim como as comunidades de aprendizagem abertas e privadas, digitais ou presenciais.”

É claro que todos esses cenários são possibilidades e, não necessariamente, uma definição fidedigna do que será o futuro da educação. Como pontuamos no começo desse tópico, o futuro é mutável e está em nossas mãos desenhar esse caminho. Mas mesmo assim, já existem algumas tendências bastante perceptíveis nos dias de hoje e que tem grandes chances de deixarem de ser tendências e passarem a ser uma realidade concreta.

Você pode conferir algumas delas, segundo a visão de especialistas na área, clicando abaixo

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A temática que tratamos nesse artigo será o foco do GEduc 2023, principal congresso de gestão educacional do Brasil, que vai acontecer entre os dias 29 e 31 de março em São Paulo. Estaremos presentes no evento e te esperamos para discutir mais sobre tecnologias educacionais e sala de aula virtual :)