Muita gente (muita gente mesmo), quando eu pergunto sobre como é ter um relacionamento à distância, diz que não dá certo. Outros dizem que é difícil, mas que com maturidade, comunicação e paciência serve para reforçar o sentimento. Eu particularmente não acredito que a distância seja a grande vilã da história, ela (para mim) é apenas um catalisador de possíveis problemas e desavenças que podem acontecer, e que colocam a prova todo relacionamento, longe ou perto.
Mas relacionamentos não dizem respeito apenas a casais. Falam também sobre família, amigos e aquele cachorro que não saía do seu colo e que você deixou do outro lado do mundo para fazer intercâmbio - mas, que se pudesse, levava junto.
A distância entre pessoas que gostamos não se escolhe, simplesmente acontece, e cabe a nós trazer elas um pouquinho mais para perto, do jeito que dá.
Requerem aquele momento de "eu estou prestando atenção em você, e só em você". E para esses momentos eu sempre recorri à câmera, ao vídeo, ao fone de ouvido, ao canto mais silencioso da casa e à tudo que eu tinha alcance naquele momento para deixar a experiência o mais imersiva possível.
Porque sejamos francos, na vida real tomamos toda a comunicação não verbal por garantida. Nem somos bons de verdade nisso, mas não podemos negar que intuitivamente ela nos salva de muitas brigas e situações potencialmente perigosas. É muito mais fácil ver que aquele “tá” seco foi porque a pessoa estava com as mãos ocupadas, atrasada e saindo de casa, do que porque estava brava conosco. Por texto, não temos essa noção. Temos que contar com a nossa sanidade mental (que nem todo mundo tem), nosso autoconhecimento e autopercepção (que em geral são bem baixos) e com o que conhecemos da outra pessoa (que é menor ainda). Uma situação provavelmente desastrosa.
Em mensagens escritas, o que temos são palavras selecionadas, relidas e editadas do que o outro quis transmitir, e ainda assim o tom que lemos é crítico, e pode ser completamente diferente daquele no qual foi escrito. O áudio ajuda muito, mas quem já não deixou pedaços de conversa pendentes porque um ônibus passou e abafou as palavras, ou cancelou o áudio mil vezes antes de falar aquilo que queria?
Especialmente por isso a videocolaboração se tornou tão importante para mim. Ainda é a distância, ainda tem suas travadas, e ainda tem seus desafios, mas é o mais próximo do ao vivo que existe nos dias de hoje (acabei de perceber que videocolaboração e realidade virtual deveriam ter um filho). Não é a solução de todos os problemas, mas com ela eu vejo o rosto de quem estou falando, percebo se está usando um moletom confortável de ficar em casa ou se vai sair com os colegas de trabalho. Por ela eu vejo as olheiras profundas (de sono ou as vezes de choro) que requerem o “está tudo bem?”, e aqueles detalhes charmosos que todos temos.
Afinal, os relacionamentos acontecem nessas sutilezas de quem está prestando atenção. À distância você precisa conscientemente abrir espaço para que estes momentos aconteçam, porque ao contrário daquelas pessoas que estão na nossa vida por comodidade, quando estamos há muitos quilômetros, é fácil relembrar que aquilo não é conveniente e temos que decidir se queremos continuar nesta direção com muito mais frequência. Porque, no fim, é bem mais fácil ignorar um dia ruim desligando o celular do que dando as costas para a pessoa e deixando ela sozinha.
E acho que essa é a maior força das videocolaborações, elas nos ajudam a nos fazer presente quando não é fisicamente possível, e de nos lembrar como é a vivência com aquela pessoa, de uma forma melhor do que apenas por áudio ou texto. Ela não tem o poder de substituir ninguém, e é suscetível a falhas - como tudo. Mas vivemos em um mundo muito estimulante para ficarmos parados em um único lugar para sempre, e sendo que os relacionamentos importantes não estão ali apenas pela comodidade, eu fico muito feliz de ter disponível uma ferramenta que transforma "tchaus" em possíveis "até logos".