Em tempos polêmicos em que a educação a distância nem sempre tem sido debatida nos contextos mais adequados e com a profundidade que mereceria diante do potencial que apresenta, este texto tem por objetivo comentar, justamente, acerca de recursos que hoje permitem que uma ideia ultrapassada e de educação massificante caia realmente por terra. Sim, conexões reais são possíveis entre pessoas, ainda que elas estejam por trás de telas diferentes. Afastamentos e proximidades, não se iludam, podem ser criados entre quem caminha lado a lado e quem está a um oceano de distância.

Como entusiasta da economia digital pelo seu lado mais inclusivo, eu prefiro falar sobre “o copo meio cheio”, e parto da perspectiva de que nem toda mudança vem para nos podar e nos tirar espaço, mas, sim, para nos instigar a desenvolvermos competências sobre as quais não havíamos ainda pensado. E, sim, entendo que é possível educar e estabelecer conexões honestas no contexto da economia digital, sem que isso culmine na mera mercantilização proveniente de uma pura racionalidade instrumental. Afinal, mesmo tecnologias rudimentares podem ser utilizadas para fins escusos, enquanto tecnologias mais sofisticadas podem ser usadas na promoção de grandes causas humanitárias!

Tenho pesquisado e atuado em treinamento corporativo e educação superior a distância há, pelo menos, quatorze anos, e percebido quantas vezes a EAD (educação a distância) foi vista com descrédito, em alguns espaços, e o quanto na mesma modalidade encontrei gente séria, dedicada, trabalhadores das áreas de educação, informática e gestão, dentre outros, envolvidos na aplicação prática e científica de importantes reflexões aplicadas ao fenômeno de educar, desenvolver competências pessoais e profissionais, enfim, apontar o caminho para a cidadania. Ouvi desde o “isso (EAD) vai aparecer no meu diploma?” até o “não pensei que dava tanto trabalho estudar a distância!”.

Nestas indagações todas que ouvi ao longo dessa curta trajetória, uma questão importante que permanecia era a do tipo: “ah, mas eu não estou vendo o professor…”, “não posso convidar meus colegas para um happy hour”…e lembro que isto sempre me deixava um tanto pensativa. Na época da nossa Plataforma NAVi na UFRGS, há cerca de dez anos atrás, comentávamos que o “Café virtual” tinha a ideia de ser um espaço virtual de descontração que, claro, jamais substituiria um encontro presencial, mas que ao menos levantava a bandeira da “proximidade” e da afetividade entre grupos de estudantes que, de outra forma, por estarem geograficamente tão distantes, não se encontrariam. Claro que, ao longo do tempo, muita coisa evoluiu tecnologicamente, para além dos AVAs (ambientes virtuais de aprendizagem) propriamente: muitos caminhos de interação, na educação e na socialização, saíram da tela do computador e foram parar também no celular, e o formato texto foi ficando cada vez mais como sendo apenas uma dentre as várias outras possibilidades que se descortinavam.

Embora já não tão antiga também, a webconferência foi, cada vez mais, me chamando a atenção, por mais que, ao menos na minha “bolha” de educadores, eu pense que ela poderia ser ainda melhor utilizada. Há bem pouco tempo, em duas webconferências em cerca de vinte dias, creio ter criado com um grupo de alunos de uma especialização a distância uma conexão possivelmente mais forte, até, do que algumas que criei com os alunos de cursos presenciais mesmo ao final de um semestre inteiro! Começamos falando de Comportamento Organizacional e, ao final da segunda webconferência, eles já estavam compartilhando comigo sonhos pessoais, desejando boa sorte na minha pesquisa em andamento, perguntando quando me encontrariam de novo no curso, se eu os orientaria nos TCCs, se um dia nos veríamos pessoalmente e me repetindo reiteradamente votos de bom descanso naquela noite! Para quem tiver interesse específico na ferramenta, a que utilizamos foi a da Elos.vc, que vem buscando constante atualização e mais recentemente está com uma versão bem amigável e estável (sim, apesar de o texto se propor a uma reflexão mais geral, faço propaganda com gosto!).

O que estou querendo relatar com esta experiência? A empatia e a intenção de se estar próximo, de se ouvir o outro, estar atento às suas necessidades, hoje já não dependem de se estar perto geograficamente ou não. Paradoxalmente, o ato de educar, de apoiar, de amparar, pode inclusive ser robustecido com o auxílio de uma ferramenta virtual em audiências maiores e, mesmo que maiores, cativas (no sentido de cativadas, conquistadas pela confiança), algo que — por vezes — em um auditório ou sala com pessoas presentes, de "corpos" presentes, não se consegue todas as vezes, já que o que forma o elo, no meu entender, é a intenção, é o estar atento, e não o fato de se estar na mesma sala. Neste sentido, convidaria meus colegas educadores a experimentarem, sempre que possível, o estabelecimento de conexões humanas mediadas pela tecnologia — e que tirem eles mesmos suas conclusões. Para mim, é possível afeto sobre IP. Como em cada relação, há os seus problemas e fragilidades. Mas eu acredito nessas conexões que, pra mim, são cada vez mais reais.