Se você é uma pessoa antenada ao que acontece de novidades em relação às tecnologias digitais, com certeza já ouviu falar do chat GPT. Nos últimos meses, essa Inteligência Artificial ascendeu progressivamente e se tornou uma tendência entre os buscadores digitais.

Assim como todas as novidades tecnológicas emergentes, ainda pairam dúvidas quanto a sua eficiência e se, em algum ponto, o uso do chat GPT poderá se tornar prejudicial. Esse último tópico é reforçado quando pensamos no universo educacional e na facilidade que alunos teriam para obter respostas rápidas e praticamente prontas através do sistema.

Mas mesmo que isso possa parecer um cenário assustador para quem atua com a aprendizagem, é possível sim que se possa alinhar o uso dessa nova tecnologia para inseri-la de forma positiva no processo de ensino e aprendizagem.

A tecnologia no processo de ensino

Já faz alguns anos que a inovação tecnológica, representada principalmente pelos computadores e aparelhos de celular, deixaram de ser consideradas inimigas da educação. Por muito tempo, esses dispositivos foram motivo de inúmeras discussões sobre o uso dentro de sala de aula e os limites considerados benéficos dessas tecnologias.

Com o passar do tempo não apenas os aparelhos eletrônicos ganharam espaço no processo de ensino, como também diversos softwares e ferramentas digitais caíram no gosto de professores e alunos, uma vez que passou-se a enxergá-las como um avanço e facilitadoras de engajamento e interação entre os estudantes.

Nos anos 2000 o Congresso de Washington DC, capital dos Estados Unidos, aprovou como lei o Goals 2000, documento que orienta as reformas educacionais necessárias para aumentar a performance dos estudantes. Dentre as diretrizes e objetivos da normativa, estão:

  • Disponibilidade de computadores e conexão de internet em todas as salas de aula;
  • Formação de todos os professores para o desenvolvimento de competências profissionais no uso das tecnologias de informação e comunicação;
  • Integração curricular de softwares interativos e recursos multimídia adequados ao nível de ensino.

Com isso queremos dizer que, desde o início do nosso século, instituições públicas, governamentais e pesquisadores passaram a legitimar a importância das tecnologias no contexto educacional, trazendo também normativas capazes de regulamentar esse uso.

A pesquisa como parte fundamental da educação

Uma das principais formas de se aprender algo novo é, sem dúvidas, através da pesquisa, que ativa não apenas a curiosidade dos estudantes como também os sentidos de interpretação e raciocínio lógico. É parte fundamental do processo de ensino e aprendizagem, que os conteúdos apresentados em sala de aula sirvam como base para o estudo pós-aula, ou seja, a pesquisa complementar. Paulo Freire, em seus estudos sobre a importância e o papel das instituições de ensino, dizia que:

“Uma instituição democrática em que se pratique uma pedagogia da pergunta, em que se ensine e se aprenda com seriedade, mas em que a seriedade jamais vire sisudez. Uma escola em que, ao se ensinarem necessariamente os conteúdos, se ensine também a pensar certo.”

Quando pensamos nessa pesquisa, seja ela complementar e espontânea, ou direcionada pelo professor em relação a algum assunto específico, é essencial para que possamos construir essa instituição democrática e profissionais exemplares.

Chat GPT

Uma das mais famosas ferramentas de pesquisa online é o Google, utilizado ao redor do mundo de forma exponencial. Mas com o surgimento de novas tecnologias e, principalmente, inteligência artificial, outras possibilidades vem surgindo e ganhando muita força entre os usuários. Uma delas é o chat GPT, tecnologia baseada em IA capaz de “imitar” as expressões e a linguagem humana.

O chat GPT, sigla para Generative Pre-Trained Transformer, foi desenvolvido em 2019 pela empresa OpenAI, situada nos Estados Unidos. Mas foi no final de 2022 e início de 2023 que essa tecnologia ganhou força e espaço entre os brasileiros.

De forma geral, o chat utiliza algoritmos baseados em redes neurais que possibilitam uma interação realística com o usuário, quase como uma conversa, apoiado por milhares de exemplos de linguagem humana. Dessa forma, essa IA consegue entender e interpretar de forma profunda as perguntas e o contexto em que estão inseridas, para que a resposta ao usuário seja completa e o mais precisa possível.

Segundo o professor Fábio Batista, em uma entrevista para a Universidade Tiradentes, as inovações e transformações tecnológicas como o chat GPT vão mudar a forma como aprendemos e ensinamos.

“Um professor mais tradicional pode dizer que o aluno está errado em utilizar o Chat GPT para escrever suas atividades. No meu ponto de vista, não acho. É a forma como o aluno vai abordar essa utilização que vale. Se ele tem uma dificuldade, utiliza a IA para trazer informações para ele decidir. No final, o poder de decisão é dele”

Ainda segundo Fábio, será preciso utilizar outras ferramentas e montar mecanismos para o validar esse formato de aprendizado. “Argumentar, apresentar, questionar… E o estudante vai ter que sustentar aquilo que escreveu. É uma dificuldade para gerações que não nasceram no digital.”

Mas justamente pelo fato de oferecer respostas completas e originais, muitos educadores têm receio quanto à possibilidade de que seus alunos copiem esses resultados ao invés de interpretá-los de forma individual. Mas e se dissermos que existem formas de explorar essa tecnologia e diminuir significativamente o risco de plágio durante as aulas?

Preocupações quanto ao uso dessa tecnologia

Como falamos anteriormente, o surgimento de uma nova tecnologia aplicada à educação é sempre motivo de receio por uma parcela de docentes e instituições. Assim foi com a ascensão dos computadores, internet, softwares e por aí vai. O último tópico de discussão é, portanto, o ChatGPT! Mas por que essa ferramenta preocupa os educadores?

Em um primeiro momento devido a sua alta capacidade de facilitar a cópia por parte dos alunos, uma vez que a inteligência gera respostas prontas quando questionada sobre algum tópico específico. Interessante pontuar que, na cidade de Nova York, o Chat GPT teve seu uso em escolas públicas restringido, assim como foi feito com redes sociais tais quais Youtube e Facebook. Ou seja, para utilizar a ferramenta em sala de aula a instituição precisa entrar com um pedido oficial e justificado, para que assim seja autorizada.

Segundo Eliane El Badouy, MBA em economia comportamental, a proibição do uso dessa tecnologia não seria uma boa resposta de ação.

“O uso mal feito é preocupante, porém esse é um assunto com o qual vamos conviver de maneira muito efetiva daqui para frente, e vai gerar cada vez mais necessidade de debate sobre adaptação por parte de todos os envolvidos, que não são apenas os alunos, mas professores e pais.“

No Brasil a preocupação da comunidade escolar veio embasada em um teste, desenvolvido em 2022, em que se utilizou o Chat para responder às questões da prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e desenvolver a redação dissertativa-argumentativa. A Inteligência obteve um desempenho considerado ótimo nas respostas objetivas, e em 50 segundos gerou uma redação capaz de ganhar nota 680!

A partir disso, começou-se a questionar se essa tecnologia realmente seria uma aliada do processo de ensino e aprendizagem. Afinal, para o professor, qual o sentido de instigar seus alunos a desenvolver suas competências críticas e argumentativas para a escrita de uma redação, se ele poderia apenas lançar a temática que o chat escreveria sozinho?

Dicas de uso do Chat GPT e sala de aula

Recentemente, Luciano Sathler, que é Membro do Comitê de Qualidade e do Comitê de Educação Básica da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), participou da live Impactos da Inteligência Artificial Generativa na Educação a Distância, em que se abordaram alguns tópicos referentes a aplicação das novas tecnologias em sala de aula, suas preocupações, importância e dicas de uso. Uma dessas tecnologias foi justamente o famoso Chat GPT, e de que forma os profissionais da educação poderiam utilizá-lo durante as aulas.

Antes de passarmos para as dicas práticas, é importante destacar um dado trazido por Luciano: O Brasil está entre os países que mais acessam o Chat GPT no mundo todo! Impressionante, né? Para ele, uma possível explicação para esse fenômeno seria a de que o brasileiro tem uma maior abertura para a tecnologia, afinal pelo bem ou pelo mal a Inteligência Artificial impactará diretamente a educação!

Nessa transmissão que mencionamos acima, Luciano Sathler trouxe algumas dicas para que os professores possam usar o chat GPT sem culpa, e de forma a torná-lo mais seguro e acessível, embasado por um estudo desenvolvido pela Fundação Dom Cabral. Confira:

Debates em aula

Essa é uma prática bastante comum e conhecida no processo de aprendizagem. O professor determina uma temática específica, divide os alunos em grupos de estudo, e esses grupos fazem uma pesquisa aprofundada sobre o assunto escolhido. Após, forma-se uma roda de debate em que cada grupo apresenta seu ponto de vista acerca do tema e discute possibilidades, troca conhecimentos e aprendizados.

O professor pode solicitar o uso do chat GPT para essa atividade, indicando que os alunos criem perguntas-chave sobre a temática e escrevam no chat. As respostas geradas serão o material de estudo desse grupo, que obviamente não pode limitar-se a apresentar apenas o que a própria inteligência gerou.

É preciso que as respostas sejam interpretadas e trazidas para o contexto real de sala de aula, com exemplos práticos e cotidianos. Assim, esse professor consegue ter maior controle sobre o uso da ferramenta e, também, entender a capacidade de análise e interpretação de seus alunos.

Alunos podem pedir ajuda com novos temas

Outra dica bem legal é utilizar o chat para inspirar novos temas de pesquisa nos estudantes. Por exemplo, se o conteúdo passado é mais complexo e o professor solicita uma dissertação sobre ele, o estudante pode buscar por informações adicionais através de uma pesquisa no chat GPT.

Debate aluno-IA

Para além dos debates entre os próprios estudantes, o professor pode instruir e conduzir uma dinâmica de debates entre humano e máquina, determinando uma temática específica e orientando o aluno a fazer perguntas para o chat e refutar os argumentos apresentados pela inteligência.

Geração de cenários hipotéticos

Essa dica é mais voltada para a ação do professor ao preparar sua aula. Na ideia de auxiliar o estudante a imaginar os conteúdos aplicados a uma realidade que se aproxima do seu cotidiano, o professor pode solicitar que o chat o ajude na criação de cenários hipotéticos em que determinado assunto possa ser aplicado. Essa é uma forma não apenas de explorar a utilização da inteligência artificial, como também usá-la para aproximar o conteúdo dos alunos.

Tradução de textos

Por fim, mas não menos importante, o chat GPT é uma excelente ferramenta de tradução de textos, superior inclusive a muitos tradutores “comuns”. Por esse motivo, utilizá-lo para auxiliar a tradução de um material significativo pode ser muito interessante como forma de trazer conteúdos de relevância e apresentar novos pontos de vista aos alunos. Essa ação pode ser desenvolvida tanto pelo próprio professor, que traduzirá o conteúdo e o disponibilizará aos estudantes, ou até mesmo instruindo que os alunos façam a atividade individualmente.


Para encerrarmos esse conteúdo é importante lembrar que as inovações tecnológicas estão em uma crescente e mostrando um potencial enorme para transformar a realidade educacional do mundo todo. Por mais que essa inserção possa parecer complexa, existem sim inúmeras formas de explorar essas inteligências de forma assertiva e benéfica!

Agora conta pra gente, a sua Instituição está utilizando algumas dessas novas tecnologias no processo de ensino e aprendizagem?