Hoje vamos começar esse conteúdo parafraseando a mestre em psicopedagogia Anita Abed, que afirma que as escolas e instituições são um local privilegiado de encontro, interlocução, questionamentos, construção e transformação do conhecimento. “Conhecimento não só nos livros, mas nas experiências de cada um. Encontro não só de saberes, mas principalmente de pessoas, nas suas diversidades e nas suas riquezas pessoais e culturais.”

O processo de ensino vai muito além do que conhecemos como tradicional, que é quase como uma passagem de conhecimento automática, sem participação ativa e sem considerar a bagagem cultural e emocional dos envolvidos (alunos e professores). Há muito mais para se desenvolver em um estudante do que apenas os saberes técnicos e práticos sobre um assunto determinado.

O sentido da educação, segundo Laerthe Abreu em sua obra Conhecimento transdisciplinar: o cenário epistemológico da complexidade, é a perspectiva do encontro do homem consigo mesmo, com a natureza e com a sociedade, um ato de afeto e ternura.

Sentir e fazer são a linguagem da educação, do conhecimento transdisciplinar: aquele conhecimento ativo que possibilita estabelecer contato com o mundo sem precisar de passaporte para navegar entre Ciência, Filosofia e a Arte. Promover o encontro verdadeiro entre Homem, Sociedade e Natureza é o desafio da complexidade do conhecimento. Compartilhar esse conhecimento entre as pessoas é o desafio da educação.”

Podemos tentar traduzir esses pensamentos em um conceito extremamente relevante para a aprendizagem: o desenvolvimento das habilidades e competências socioemocionais, ao mesmo tempo que se constrói o conhecimento técnico. Afinal, para se tornar um profissional de sucesso é necessário muito mais do que esse saber mecânico, é preciso conhecer os limites, aprender a lidar com as adversidades do mercado, com a saúde mental, desenvolver a consciência social e trabalhar em equipe de forma multidisciplinar.

O que são as habilidades socioemocionais

De forma geral, as competências e habilidades socioemocionais são aquelas relacionadas às emoções humanas de relação consigo e com o próximo. A partir dos anos 1970, o conceito de competência surge relacionado à qualificação profissional de forma muito mais relacionada ao trabalho em organizações empresariais, em que se acreditava que ter um profissional competente é uma das formas de diminuir a precariedade do trabalho. Já a partir dos anos 80, as competências passam a ser associadas à realização das pessoas, a maneira que elas provêm, produzem e vivem.

Na visão do autor Bruno Damásio, as competências socioemocionais podem ser compreendidas, na atualidade, como:

“Uma rede que engloba competências emocionais (autoconhecimento), competências cognitivas (empatia) e competências comportamentais (decisões responsáveis) que auxiliam no bom desempenho ao longo da vida.”

Aprendizagem socioemocional

Criado pela organização internacional sem fins lucrativos Casel (The collaborative for Academic, Social and Emotional Learning), o termo aprendizagem socioemocional surgiu há mais de duas décadas pelo grupo de pesquisadores e educadores que compõe a organização, com o intuito de disseminar a importância da inserção dos comportamentos socioemocionais na aprendizagem ao longo da vida.

Segundo a Casel, a Aprendizagem Socioemocional (ASE) á o processo pelo qual toda criança, jovem e adulto adquirem e aplicam conhecimentos, habilidades e atitudes para desenvolver identidades saudáveis, gerenciar emoções, alcançar objetivos pessoais e coletivos, sentir e demonstrar empatia pelos outros, estabelecer e manter relacionamentos de apoio e tomar decisões responsáveis ​​e cuidadosas.

“Ela promove a equidade e a excelência educacional por meio de parcerias efetivas entre escola, família e comunidade, que estabelecem ambientes de aprendizagem, experiências e relacionamentos amparadas na confiança e na colaboração, um currículo estruturado e significativo com instrução direta e avaliações contínuas.”

A estrutura defendida pela Casel para explicar a Aprendizagem Socioemocional é desenhada da seguinte forma:

Em suma, a aprendizagem socioemocional seria o resultado da combinação de oportunidades de aprendizagem, parcerias efetivas, cultura, práticas e políticas escolares e materiais com instrução direta sobre a AES: sendo que tudo isso é, ainda, somado as seguintes características:

  1. Habilidades de Relacionamento: Dá a oportunidade da pessoa criar e manter os vínculos afetivos, bom relacionamento com o outro e ser adaptável aos mais diferentes ambientes de maneira saudável;
  2. Tomada de decisões responsáveis: Fazer escolhas construtivas e com consciência sobre os impactos que cada decisão terá em sua vida pessoal e profissional;
  3. Consciência Social: Entender a história, bagagem e cultura do próximo é uma das melhores maneiras para se desenvolver o senso de empatia e solidariedade;
  4. Autorregulação: Aprender a lidar com as adversidades de forma independente auxilia o indivíduo a desenvolver não apenas a responsabilidade, mas também a confiança, motivação e disciplina;
  5. Autoconhecimento: Saber identificar os gatilhos que mobilizam seus comportamentos e atitudes é essencial para alcançarmos nossos objetivos e conhecer pontos fortes e gatilhos emocionais.

Fórum Internacional de Políticas Públicas

Com o objetivo de discutir e trocar conhecimentos acerca das habilidades e competências socioemocionais, em 2014 foi promovido o Fórum Internacional de Políticas Públicas - Educar para as competências do século 21, trazendo luz às lacunas e necessidades dos países em relação aos seus processos de aprendizagem.

Sendo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma das entidades organizadoras do fórum, um dos pontos consensuais entre os participantes foi de que as competências socioemocionais são um importante instrumento para a melhoria de índices econômicos, sociais e educacionais e com impacto significativo sobre as desigualdades sociais.

“Compreender quais competências são importantes; compreender os mecanismos de formação de competências e desenvolver melhores práticas para promovê-las, medir competências socioemocionais e melhorar políticas públicas e contextos de aprendizagem; desenvolver estratégias para garantir uma abordagem plena e coerente para o desenvolvimento de competências.” (OCDE)

Como as Instituições podem estimular essas competências

Entendendo um pouco mais sobre a importância de implementar ações voltadas ao desenvolvimento das competências socioemocionais dos alunos, precisamos também buscar por algumas ações práticas para que as Instituições de Ensino Superior possam ancorar suas estratégias. O aluno precisa sentir que todo o tempo que ele está dedicando para a sua formação, lhe dará muito mais do que o conhecimento técnico, e que ao graduar-se se sentirá muito mais preparado e confiante para enfrentar a realidade do mercado de trabalho.

Essas competências precisam ser trabalhadas em todas as atividades da instituição, ou seja, desde as atividades de ensino propriamente de sala de aula, até a pesquisa e extensão universitária. Pensando nisso, a IES pode investir em algumas estratégias como:

  1. Estudos e dilemas éticos: Introduzindo o estudante em um cenário adverso, com possibilidades de ação que irão culminar em resultados diferentes a depender da escolha individual, é uma das formas de instigar nele os sensos de ética e responsabilidade coletiva;
  2. Atividades extracurriculares que envolvam a comunidade: Inserido em um ambiente diferente daquele de sala de aula, o estudante tem a possibilidade de experienciar não apenas a realidade do mundo, como também criar relações afetivas e emocionais com os demais;
  3. Integração entre os próprios alunos: Conhecendo seus colegas para além das famosas “calouradas”,  é muito importante para que se gere um senso de comunidade e parceria.
  4. Atividades em grupo: Por fim, mas não menos importante, as atividades em grupo são excelentes para que o estudante aprenda a lidar com as possíveis frustrações e dificuldades, oportunidade de liderar um grupo de pessoas, e ainda instigar o senso de cooperação e colaboração uns com os outros.

Fazer educação nos dias de hoje é muito diferente da forma como, provavelmente, nós aprendemos. Muito disso se deve as atualizações do mercado de trabalho (novas exigências de profissionais) e as mudanças constantes da sociedade cada vez mais tecnológica e inovadora. Para acompanhar esse processo, portanto, as Instituições não podem mais cruzar os braços e seguir reproduzindo uma educação antiquada!

Por aqui, sempre tentamos trazer conteúdos que ajudem a sua IES a seguir se atualizando das tendências tecnológicas educacionais e onde investir para destacar-se e oferecer uma experiência de ensino memorável. Desde ensino híbrido, até lifelong learning, possibilidades educacionais futuras e a aprendizagem experiencial, são alguns dos temas que já abordamos por aqui.

O desenvolvimento das competências socioemocionais é, portanto, mais um desses temas chave para revolucionar o processo de ensino e aprendizagem que está sendo oferecido pela sua IES!

Curtiu esse conteúdo? Acesse as nossas redes sociais e assine a newsletter do Elos para continuar nos acompanhando :)