Transformar o aprendizado dos estudantes, principalmente quando falamos em ensino superior, é um processo que demanda esforços e investimentos em infraestrutura e tecnologias para facilitar a aprendizagem. Nesse contexto não fica difícil imaginar que o que precisa ser reformulado não é apenas a parte física ou tecnológica da instituição, mas também - e talvez de forma principal, as metodologias escolhidas pelos docentes para serem utilizadas no dia a dia da sala de aula.

Os estudantes precisam desenvolver certas habilidades durante o ensino superior que, na grande maioria das vezes, não são devidamente exploradas nas fases anteriores de ensino fundamental e médio. Por exemplo, umas das competências mais exigidas dos graduando são pesquisa em profundidade, boa comunicação verbal e desenvolvimento de pensamento crítico frente às hipóteses. Mas quando pensamos nos níveis de ensino que levaram esses estudantes até a graduação, essas competências são pouquíssimo incentivadas, e em alguns casos, até inibidas!

Portanto, promover um processo de ensino e aprendizagem que fuja do tradicional e envolva os estudantes no desenvolvimento de competências não apenas técnicas, mas também socioemocionais, é um dos grandes desafios das instituições de ensino superior. Vamos entender um pouco mais sobre isso?

Origem e características da Aprendizagem Baseada em Competências

O que é a aprendizagem? Segundo Paulo Freire, um dos maiores educadores do mundo, é o processo constante de criação do conhecimento e de busca da transformação-reinvenção da realidade pela ação-reflexão humana. Já as competências, conforme definido pelo sociólogo suiço Philippe Perrenoud, é a capacidade de agir eficazmente perante um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem se limitar a eles.

Unindo esses dois conceitos podemos inferir, então, que a Aprendizagem por Competências é um processo de conhecimento que busca a transformação da realidade através do incentivo às ações práticas focadas na preparação do estudante para o sucesso no mercado de trabalho. O aluno aprende fazendo, com seus erros e acertos.

O surgimento das discussões sobre esse tema tiveram seu início lá nas décadas de 1960 e 1970, quando se começou a colocar em contraste as competências e habilidades do aluno em detrimento do conhecimento acadêmico, gerando inúmeros movimentos críticos ao modelo tradicional de ensino - que focava principalmente na transmissão de conhecimento através das aulas expositivas e memorização.

Mas foi a partir da década de 1990 que as organizações mundiais como UNESCO e OCDE passaram a enxergar as discussões sobre habilidades e competências  no processo de ensino como fundamentais e, mais do que isso, urgentes!

Comissão Internacional de Educação UNESCO

Ainda no final dos anos 90, mais especificamente em 1996, quando as discussões sobre uma reformulação internacional do processo de ensino e aprendizagem ainda estavam engatinhando, a UNESCO promoveu a Comissão Internacional de Educação para o Século XXI. Nesse encontro foi definido os quatro pilares mais importantes para direcionar o ensino, que são a base da aprendizagem por competências:

  • Aprender a conhecer: dominar os instrumentos para a busca de informações e conhecimento.
  • Aprender a fazer: desenvolver as competências práticas para conseguir solucionar os desafios;
  • Aprender a viver junto: cooperação, colaboração e desenvolvimento em equipe como parte fundamental.
  • Aprender a ser: a união dos três primeiros pilares para formar o todo, ou seja, o desenvolvimento pessoal e profissional.

Para além das competências técnicas

Na pesquisa intitulada Desenvolvimento de Competências Múltiplas e a Formação Geral na Base da Educação Superior Universitária, de Paulo Nacif e Murilo de Camargo, é enfatizado a lacuna existente entre as competências desenvolvidas nos currículos das Instituições de Ensino Superior e o que é exigido pelo mercado de trabalho desses futuros profissionais.

“Nos dias atuais, grande parte dos egressos das universidades brasileiras têm dificuldade em conseguir espaços de trabalho com apenas as competências e os conhecimentos técnicos específicos adquiridos na universidade, uma vez que se tornam ultrapassados muito rapidamente. Retornar aos espaços de formação e atualizar esses conhecimentos e competências técnicas se torna necessário em intervalos de tempo cada vez menores.”

Muito além das habilidades  técnicas de cada profissão, os estudantes necessitam cada vez mais ter muito bem desenvolvidas uma multiplicidade de características socioemocionais, comunicacionais e de auto suficiência para destacar-se.

A dupla apresentou um estudo da compilação de diretrizes curriculares dos cursos de graduação gerido pelo Conselho Nacional de Educação. O documento apresentou um conjunto de competências, habilidades e qualidades gerais não específicas de nenhuma carreira ou profissão, mas que são competências essenciais à toda formação e vida de aprendizagem dos estudantes.

  • Competências de educação permanente: preparar pessoas para assumir a responsabilidade pela contínua formação, desenvolvimento pessoal e profissional para o convívio numa sociedade de aprendizagem ao longo de toda a vida;
  • Competências técnico-científicas: preparar pessoas com capacidade para transformar o conhecimento científico em condutas profissionais e pessoais na sociedade, relativas aos problemas e necessidades dessa sociedade;
  • Competências sociais e interpessoais: preparar pessoas para o convívio social e interpessoal na vida em geral e nas organizações, orientada para os valores humanos, o trabalho em equipe, a comunicação, a solidariedade, o respeito mútuo, a criatividade;
  • Valores humanísticos: Preparar pessoas para a postura reflexiva e analítica dimensão social e ética que envolve os aspectos de diversidade étnico-racial e cultural, gêneros, classes sociais, escolhas sexuais, entre outros.

Aprendizagem por competências em cursos livres online

Já pensou que o egresso da sua Instituição pode estar buscando uma formação complementar para o desenvolvimento de alguma habilidade que o mercado exigiu, ou que ele mesmo identificou como sendo necessária profissionalmente? Mas ele esbarra em uma realidade: não tem tempo suficiente para deslocamento - ou ainda um horário fixo e constante para dedicar-se. Então, essas são grandes possibilidades que as Instituição de Ensino Superior podem explorar através da criação de programas Ead de profissionalização.

Michelle Weise, diretora executiva do laboratório de pesquisa e desenvolvimento de estratégia e inovação da Southern New Hampshire University, escreveu sobre a aprendizagem por competências no contexto de formação complementar, reforçando que esse método é a chave para preencher as lacunas de habilidades na força de trabalho.

“Digamos que uma recém-formada com um diploma em história perceba que, para alcançar seu emprego dos sonhos ela precisa de alguma experiência com marketing de mídia social. Voltar para a faculdade não é uma opção desejável, e muitas nem oferecem cursos relevantes nas mídias sociais. Onde está o programa acessível, direcionado e de alta qualidade que ela precisa para se habilitar?”

Para Michelle, está cada vez mais claro que as competências on-line têm o potencial de criar caminhos de aprendizagem de alta qualidade que são acessíveis, escaláveis e adaptados a uma ampla variedade de setores.

“O aprendizado baseado em competências online se concentra no domínio de um assunto, independentemente do tempo que leva para chegar lá. Um aluno não pode seguir em frente até demonstrar fluência em cada competência. Como resultado, um empregador pode ter certeza de que, quando um aluno sabe usar fórmulas matemáticas para tomar decisões financeiras, ele  domina essa competência. O aprendizado é fixo e o tempo é variável. “

Como as IES podem incentivar esse método?

Como vimos no decorrer deste artigo, o estudante precisa estar cada vez mais preparado para os desafios impostos pelo mercado de trabalho, e é papel das Instituições de Ensino oferecer as ferramentas necessárias para que os estudantes atinjam esse objetivo. Confira abaixo algumas dicas práticas para aplicar na sua IES

  1. Crie parcerias entre empresas e Universidade como forma de incentivar esse contato desde o início da graduação. Assim, tanto os alunos conseguem ter uma visão mais ampla do que o mercado profissional exige dele em termos de habilidades, quanto as próprias empresas tem a possibilidade de conhecer mais sobre os futuros profissionais;
  2. Desenvolva e gerencie programas de estágio para que, em certa altura do curso, o estudante dê os primeiros passos em sua carreira profissional através da experimentação de como funciona a realidade dos negócios. É imprescindível que esse programa seja muito bem organizado, contando com suporte constante de professores e coordenadores para atender as necessidades dos alunos;
  3. Disciplinas de acordo com o mercado de trabalho através da pesquisa de campo do que o mercado está buscando nos futuros profissionais, para que se crie um currículo muito mais assertivo e em consonância com as competências esperadas.