Com certeza você já ouviu falar sobre as metodologias ativas, não é mesmo? Inclusive, esse é um assunto bastante recorrente aqui no nosso blog, clicando aqui você pode conferir mais conteúdos sobre isso.

Mesmo sendo um tópico considerado uma tendência mundial para a educação inovadora, colocá-la em prática ainda pode ser um grande desafio institucional e pedagógico.

Portanto, na ideia de dar continuidade às nossas discussões sobre as tendências educacionais, hoje vamos te ajudar a entender melhor sobre o histórico desse conceito, aplicações e o uso de duas metodologias ativas no curso de Medicina: Problem Based Learning (PBL) e Team Based Learning (TBL).

O surgimento das metodologias ativas

Mesmo que pareça um conceito bastante novo e pouco explorado na educação tradicional, as metodologias ativas têm como base de existência o pensamento e as ideias defendidas pelo filósofo John Dewey, lá na década de 1930.

Em um contexto histórico mundial, as primeiras décadas do séc. XX foram marcadas não apenas pelas duas Grandes Guerras, mas também pelo surgimento e apogeu dos movimentos artísticos de inversão à realidade e valorização da ilogicidade, como o Expressionismo, Abstracionismo e Surrealismo (que tinha como principais nomes os pintores espanhóis Salvador Dalí e Pablo Picasso - que mais tarde seria o precursor do movimento cubista). Além disso, esse foi um momento de avanços tecnológicos importantes em meio a disputas pelo poder e uma militarização dos processos educacionais e sociais.

A nível nacional, a política brasileira passava por uma transformação com a subida de Getúlio Vargas ao poder e a centralização das leis voltadas à regulamentação da educação. Assim, podemos recordar também a criação do Ministério da Educação em 1930.

E foi em meio a inúmeras mudanças e transformações que as ideias de Dewey sobre a união da teoria com a prática começaram a disseminar, em um movimento que ele chamaria de Escola Filosófica de Pragmatismo.

As ideias de Dewey: “Nós só pensamos quando nos defrontamos com um problema”

O filósofo e professor defendia que para o aluno assimilar os conteúdos passados em sala de aula, os mesmos precisam estar associados a elementos de realidade. Para ele, é apenas na busca por resolver problemas da vida real que o estudante é capaz de aprender ideias complexas, tendo seu crescimento físico, mental e emocional valorizado como um todo.

Forte crítico da conhecida “educação tradicional”, Dewey afirmava em suas obras que o surgimento dos ideais de educação progressiva e pragmática vêm a partir do descontentamento com o modelo habitual. Em seu livro “Experiência e Educação”, ele afirma que:

“O esquema tradicional é, em essência, esquema de imposição de cima para baixo e de fora para dentro. Impõe padrões, matérias de estudo e métodos. {...} a distância entre o que se impõem e os que sofrem a imposição é tão grande, que as matérias exigidas, os métodos de aprender e de comportamento são algo de estranho para a capacidade do jovem.”

A criação toda de sua filosofia tem como pilar, portanto, a ideia de desenvolver as capacidades de raciocínio e espírito crítico do aluno através da pragmaticidade! Ou seja, para ele a educação está na ação, na resolução de um problema a partir da busca por soluções criativas e coletivas - sendo assim uma das ideias precursoras do que conhecemos hoje como Metodologias Ativas.

Ele resume seu próprio pensamento quando fala:

“Dar aos alunos algo para fazer, não algo para aprender. E o fazendo é de tal natureza para exigir pensamento. Aprender os resultados naturalmente.”

O avanço das metodologias ativas

Surgindo da união de diversas filosofias e teorias pedagógicas, as Metodologias Ativas são hoje uma das maiores tendências educacionais do século XXI. Relendo o que defendia Dewey fica evidente que, além de serem ideais inovadoras e transformadoras para a época, ainda são bastante atuais, muito embora, hoje em dia, as metodologias sejam apoiadas por tecnologias digitais.

De forma geral, as metodologias ativas são estratégias educacionais e pedagógicas para incentivar que o aluno seja protagonista do seu processo de aprendizagem e desenvolva habilidades e competências de autonomia, raciocínio lógico, pensamento crítico e responsabilidade.

Uma das autoras brasileiras contemporâneas sobre o assunto é a pesquisadora e educadora Lilian Bacich. Ela defende a ideia de que o uso das metodologias ativas converge inúmeros modelos de aprendizagem e envolve um conjunto de estratégias para isso.

“Ao enfatizarmos a importância da inserção de metodologias ativas nas instituições de ensino, reforçamos que a urgência desse processo é a reflexão de que não existe uma forma única de aprender e que a aprendizagem é um processo contínuo em que todos os envolvidos no processo devem ser considerados como peças ativas!”

As metodologias ativas na área da saúde

Em uma entrevista recente, o professor José Manuel Moran relembrou o papel das metodologias ativas na transformação curricular dos cursos de graduação na área da saúde, em meados da década de 1960, quando passou-se a organizá-los por problemas.

“Em vez de os alunos estudarem as disciplinas separadamente, trabalhavam um problema, parte em grupo, depois parte individual, em uma série de etapas e com tutoria. Então, o professor fica como tutor, mas o aluno tem que pesquisar e encontrar as melhores e mais adequadas soluções para determinado problema.”

Levar essas metodologias para dentro da sala de aula revolucionou a forma com que se aprende sobre saúde! Hoje em dia, grande parte das universidades implementam - nos seus cursos de Medicina, por exemplo - um modelo de aprendizagem mais ou menos assim:

  1. Tutoria: Análise de um caso clínico e apresentação de diagnóstico no final;
  2. Conferência: Aprofundamento sobre o tema da tutoria;
  3. Laboratório: Ciências básicas integrando alunos e professores;
  4. Consultoria: Professor dá um assunto prévio, e o aluno pesquisa e tira dúvidas diretamente com o docente.

Algumas metodologias empregadas

Existem inúmeras possibilidades de aplicação quando falamos em Metodologias Ativas. Cada objetivo e cada disciplina pedem por uma abordagem diferente e mais específica. Tratando-se do curso de Medicina, por exemplo, podemos destacar duas que se consagram como tendência na área da saúde: PBL e TBL

Problem Based Learning (PBL): A aplicação dessa metodologia, que também é chamada de Aprendizagem Baseada em Problemas, tem como foco o conhecimento construído de forma coletiva a partir da resolução de um problema do “mundo real”. Ou seja, na ideia de ensinar algum conteúdo específico, o professor propõe um problema real para os estudantes buscarem por soluções de forma coletiva. O docente deve estar para os alunos como um tutor, estimulando o pensamento crítico e criativo constantemente.

Team-Based Learning (TBL): Ou Aprendizagem Baseada em Equipes, tem como objetivo a construção do conhecimento em grupos heterogêneos e com uma certa preparação prévia. A grande diferença aqui para o PBL é que o foco não está necessariamente apenas na solução do problema, mas no compartilhamento de experiências dos estudantes.


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