Para os que acreditam que a educação está estagnada, não muda ou se transforma conforme as necessidades, digo que estão muito enganados! Pode parecer estranho, mas a maior dificuldade não está nos processos e sim nas pessoas. Todos os dias acontecem microrrevoluções, inovações, invenções… A educação é um organismo vivo que pulsa com força.
Quando acreditamos que ela não muda, acabamos colocando toda sua responsabilidade sobre os professores, educadores e escola. Ainda crendo em uma educação unidirecional. A verdade é que os processos educativos acontecem de forma tão complexa quanto a própria evolução das pessoas. Isso significa que ela muta diariamente, só não temos a capacidade de perceber!
Educação do século XX versus Educação do século XXI
Poderia começar esse trecho abordando a educação bancária, conceito desenvolvido por Paulo Freire, ou os princípios tecnológicos na educação. Certamente são super importantes quando pensados através de uma linha do tempo antes da informação em massa e depois da informação em massa. Além disso, também temos o fator opressor da educação, quando crianças e jovens não tinham voz nos espaços de aprendizagem.
Porém, ainda que pensemos nesses fatores e compreendamos sua relevância para diferenciar os séculos XX e XXI, gostaria de focar outro aspecto:
As mulheres e os homens, ao longo de sua existência, transformaram-se de nômades a comunidades fixas. Tornaram-se donos de suas terras e cultivaram ali suas culturas. Assim permaneceram por muito tempo. Contudo, nessa jornada evolutiva, entenderam que os espaços perpassam aquilo que é definido como próprio e físico. Perceberam que em seus próprios espaços estariam limitados aos saberes e conhecimentos da sua comunidade. E como bem sabemos, assim se deram as primeiras migrações presenciais e, advindo das tecnologias, as virtuais. Começamos a nos questionar sobre tendências, políticas, esportes, trabalho, entre tantos outros temas, numa perspectiva global. E nesse contexto não seria diferente para educação. Os processos de ensino e aprendizado se mesclaram e, de forma exponencial, alcançaram cada vez mais novos patamares.
Pensando hoje em escala global, é possível notar como a transdisciplinaridade e diversidade de áreas de atuação foram de extrema importância para a aquisição de educações inovadoras. Podemos citar alguns exemplos dos mais diversos segmentos: design, aprendizado combinado, e-learning, kanban, métodos ágeis, planejamento estratégico, aprendizado peer to peer…
Sendo assim, ficam muito claras as mudanças educacionais do século XX para o XXI. Ainda mais pensando em crianças, jovens e adolescentes hiper conectados. A sociedade líquida não dispõe de tanto tempo para sentarmos quatro ou cinco horas em um espaço fechado nada estimulante e ficarmos, de forma passiva, escutando um professor/orador falando, falando e falando.
A hiper conexão e as atividades que estimulam e engajam tem tudo a ver com os processos neurológicos referentes aos melhores formatos de aprendizado.
Aprender fazendo, praticar, errar e tentar de novo. Esse é o caminho e muitas instituições já se deram conta disso!
Antes de falarmos especificamente sobre as metodologias é importante abrir um parênteses e abordar uma questão fundamental: ambientes de ensino. Estrutura, recursos ofertados pelas instituições, disposição dos móveis, ampliação para espaços colaborativos são importantes formas de fomentar educações ativas.
Não são todas as escolas que possuem condições de transformar seus espaços, e nestes casos o simples fato de remodelar a sala de aula, criando grupos de trabalho com classes e cadeiras, reposicionando a mesa do professor para fundo da sala e não mais na frente, já trazem novo olhar e posicionamento dos professores e estudantes. E, quando a instituição consegue fazer algum investimento, ainda que baixo, trazer cores para a sala nas paredes e puffs, além de adesivagem, já contribui muito para a constituição de um espaço mais criativo e estimulante.
Abaixo seguem algumas escolas que possuem espaços bastante disruptivos e experiências inovadoras.
Woorana Park Primary School
Projeto Âncora
High Tech High
Se você quiser saber mais sobre experiências e escolas inovadoras:
Ter espaços diversificados contribui e muito para processos ativos de ensino e aprendizado. Porém, não basta ter um local diferenciado se o método continua passivo. O professor, tutor, educador, etc, precisa saber lidar com esses ambientes para articular formatos mais dinâmicos e mão na massa com os estudantes.
As 3 principais metodologias ativas
Aprendizagem baseada em problemas
- Organização e orientação de temáticas e assuntos através de problemas geradores, e não de disciplinas ou conteúdos. Integração interdisciplinar.
- Trabalhos teóricos e empíricos são realizados simultaneamente com o objetivo de solucionar os problemas.
- Preocupação com desenvolvimento cognitivo e socioemocional.
- Metodologia centrada no estudante tendo o professor como mediador e curador.
Aprendizagem baseada em projetos
- Começa com uma pergunta problematizada da qual professores e estudantes não têm a resposta. Trabalha-se na perspectiva de perguntas reais e abertas.
- Estudantes recebem um desafio com ilustração das competências e habilidades que desenvolverão ao longo do projeto.
- Pesquisa, autonomia e autodidatismo caracterizam a aprendizagem baseada em projetos. O professor tem papel de curador.
- Os projetos normalmente acontecem de forma interdisciplinar.
- Todo o projeto tem como proposta alguma entrega. A entrega acontece em função da resposta que se remete a pergunta problematizadora.
Aprendizagem entre times ou pares
- Através de pares ou equipes o professor define quais são os resultados esperados.
- Cuidado com as formações dos estudantes para que sejam complementares. Isso significa que se apoiam através de habilidades distintas. O professor precisa ajudar nessa escolha.
- Através das trocas e interações os alunos aprendem uns com os outros.
- Ao mesmo tempo em que os alunos aprendem, também ensinam uns aos outros.
- O professor possui papel de mediador e facilitador.
- Assim como nas demais metodologias, é necessário apresentar o trabalho desenvolvido.
Sala de aula invertida: a sala de aula invertida acontece quando o professor disponibiliza, através de ambientes virtuais, o material básico, teórico e/ou introdutório. Neste cenário, os estudantes de forma autônoma estudam e, quando se encontram com turma e professor, partem de questionamentos e dúvidas acerca do que pesquisarem. Isso significa que o docente não tem o compromisso de desenvolver uma aula oral baseada em conceitos e teorias.
Aprendizado combinado: o aprendizado combinado acontece de duas formas: presencial e virtual. Neste caso, a maior parte dos conteúdos e atividades se dão através de ambiente virtual. Podemos dizer que é uma educação EAD com momentos presenciais. O estudante necessita ser autônomo e disciplinado nestas circunstâncias de ensino.
Ensino híbrido: o ensino híbrido é bastante parecido com o aprendizado combinado. Porém, seu foco não está na educação EAD com momentos presenciais. Está voltado para mescla e equilíbrio dos dois formatos e conectado também com outras tecnologias educacionais.
## Dica: A aprendizagem ativa não se dá apenas através de metodologias ativas, existem outros recursos, ferramentas e até mesmo metodologias que podemos utilizar.
As metodologias ativas se propõem à realização de atividades mão na massa principalmente porque exigem que o estudante aprenda fazendo. Dessa forma, existem vários recursos que apoiam e contribuem com esses processos práticos de aprendizado. Alguns exemplos são: Design Thinking, Gamificação e Movimento Maker.
Para saber mais sobre esses temas, acesse:
# Minha experiências com Design Thinking e suas aplicações na Educação
Metodologias Ativas e aprendizado mão na massa, combinados, geram incríveis microrrevoluções na educação. Conectam de forma eficaz competências cognitivas e socioemocionais. Também proporcionam experiências memoráveis e significativas para os aprendentes do processo. Por fim, é divertido aprender fazendo e aprender brincando.
A imagem abaixo ilustra as habilidades desenvolvidas quando fomentamos o aprendizado ativo. Interessante perceber o quanto estão linkadas com as competências do século XXI.
Impossível acharmos que a educação não se transforma. Todos os dias ela se mostra diferente: através dos olhares da comunidade, alunos, professores e gestores. As microrrevoluções acontecem, sejam tecnológicas ou humanas.
Porém, ficam as reflexões: estamos preparados? O que ainda não conseguimos enxergar?
Não é fácil conseguir se ressignificar com tanta velocidade, tanta informação e tantas exigências. No entanto, temos que tomar como um exercício e um desafio diário e permanente.
Não deixem de nos acompanhar nessa série de artigos que abordarão os desafios das metodologias ativas em ambientes EAD e como definir e métricas e índices de engajamento para esses ambientes de aprendizado ativo.
Você também pode conferir mais sobre esse tema clicando no artigo abaixo!
Fonte da imagem de capa: Blog HDSTORE