Certa vez Paulo Freire, o maior expoente brasileiro referente a estudos de educação e pedagogia inclusiva, disse: "Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre".
Aprender é um ato contínuo, que não restringe-se à educação formal em sala de aula, mas abarca também os conhecimentos que adquirimos através da interação social, cultura, memória coletiva, interesses individuais e afins. Portanto, para se descobrir novos conhecimentos não existe uma data de validade!
E é justamente sobre isso que queremos falar hoje, o conceito de lifelong learning e a importância dele para transformarmos a educação, a forma como enxergamos o aprendizado e o papel das instituições de ensino.
O que é lifelong learning?
Traduzido como Aprendizado ao longo da vida, essa ideia se sustenta a partir do entendimento de que as pessoas não estão, e nem devem estar, estagnadas em uma única área do conhecimento, uma vez que os aprendizados acontecem por inúmeras fontes no decorrer da vida toda. Ou seja, se refletirmos sobre a nossa infância, quando aprendemos a ler, depois escrever, interpretar um texto (e aí por diante), estávamos praticando o lifelong learning!
É claro que quando éramos crianças, as interferências do “mundo adulto” não eram tão significativas e podíamos desfrutar da curiosidade, sociabilidade e interação de forma muito mais natural. Mas fazer o exercício de relembrar o que nos inspirou a buscar conhecimento nessa época, é uma boa maneira de tentar nos reconectar com esse ímpeto pelo “novo”.
Segundo uma pesquisa realizada pela Pew Research Center, a grande maioria dos americanos busca conhecimento extra por motivos pessoais e relacionados ao trabalho. 73% dos adultos entrevistados se consideram aprendizes ao longo da vida e 80% dizem que buscaram conhecimento em uma área de interesse pessoal porque queriam aprender algo que os ajudasse a tornar sua vida mais interessante e plena.
Ou seja, o lifelong learning defende que os estudos e a busca pelos novos conhecimentos é, não apenas uma forma de se manter sempre atualizado com as inovações e tecnologias, mas também uma forma de nutrir as curiosidades individuais - o que, convenhamos, traz muita satisfação!
Não queremos dizer que os estudos em sala de aula não são importantes, muito pelo contrário. Mas é necessário superar o diploma, e entender que a formação acadêmica é uma parte da nossa vida e não o que faremos pra sempre. O desenvolvimento pessoal é um processo, que se alimenta muito da curiosidade, oportunidades e vontade de se superar e conhecer novas áreas.
Importância no mercado de trabalho
Por aqui já falamos bastante sobre as necessidades do mercado em relação ao futuro profissional e o quanto as habilidades técnicas já não são mais o ponto crucial que as empresas analisam na hora de contratar um funcionário. Em detrimento disso, emergem o que chamamos de soft skills, ou seja, as competências socioemocionais e os conhecimentos “de vida”.
Para atingir esse ponto, investir no lifelong learning é uma das melhores formas de se destacar frente às empresas, uma vez que o aprendizado contínuo fornece não apenas esses saberes mais cotidianos, mas também auxilia no desenvolvimento das habilidades de comunicação, interação, sociabilidade, raciocínio lógico e colaboração.
Como as instituições podem estimular o lifelong learning nos alunos?
Os benefícios dessa prática abriram novas oportunidades não apenas para os estudantes, mas também para as próprias instituições de ensino superior, que passam a investir mais recursos em cursos de extensão, cursos livres e workshops de conteúdos mais generalistas.
Entende-se também que, quando o indivíduo passa a vivenciar o lifelong learning e entender que nunca é tarde para começar um novo aprendizado, ele tem a tendência de procurar por formações complementares ou uma completamente diferente. E é nesse momento que o papel das instituições de ensino passa a ser o de convencer esse aprendiz de que ela oferece tudo que ele precisa para não estagnar-se e continuar aprendendo.
Alguns exemplos de ações que a IES podem investir para estimular a aprendizagem contínua dos seus alunos, são:
- Fortalecer as atividades complementares como essenciais dentro do currículo dos cursos de graduação;
- Oferecer cursos de curta duração, com temática não relacionadas ao conteúdo de sala de aula, para que o aluno possa desenvolver outras habilidades (como as socioemocionais que citamos anteriormente);
- Promover palestras e workshops que auxiliem o estudante no seu dia a dia, como por exemplo de educação financeira, temáticas relacionadas à empregabilidade, novas tecnologias, etc.
Os pilares do lifelong learning
Para auxiliar quem está iniciando nessa jornada (seja uma pessoa física ou uma instituição de ensino), existem quatro pilares fundamentais para se basear:
1. Aprender a conhecer
É a fase de reconhecimento, em que a pessoa entende a necessidade de se atualizar, buscar novos conhecimentos e passa a efetivamente gostar desse processo. A aprendizagem passa a ser prazerosa e uma atividade cotidiana.
No papel de instituição, pode-se desenvolver atividades que instiguem a curiosidade do estudante, para que ele, de forma autônoma, comece a trilhar seu caminho de descobertas.
2. Aprender a fazer
Logo após o indivíduo descobrir os seus interesses e o que gosta de aprender para além dos conteúdos técnicos de sala de aula, ele precisa da prática. Nesse momento é hora da IES trabalhar em qualificações subjetivas dentro dos cursos, como o trabalho em equipe, a pesquisa, habilidades emocionais, oratória, relações interpessoais e etc.
3. Aprender a conviver
O indivíduo necessita, assim como todo o ser humano, do contato com o outro e com o ambiente para descobrir novas habilidades. É imprescindível que se estabeleça vínculos sociais, compreensão das diferenças e diversidades, respeito a si e ao próximo.
Aprender a gerenciar crises, saber lidar com as adversidades, gerir as finanças e balancear as emoções são pontos super importantes que a IES precisa estimular em seus estudantes.
4. Aprender a ser
Superar os seus desafios e lidar com autonomia em relação ao seu desenvolvimento pessoal é o que se resume neste pilar final. A ideia é que o estudante, aliado às iniciativas da Instituição de Ensino, busque sempre o seu crescimento integral, ou seja, dedique-se a um assunto de interesse ao mesmo tempo que absorve dele os ensinamentos socioemocionais, por exemplo.
Dessa forma, desenvolve-se o pensamento crítico em relação à sociedade como um todo, além da autonomia, senso de responsabilidade com a sua própria formação e com o próximo.