A educação, um dos sistemas sociais mais completos e complexos, está em constante transformação. Há não muito tempo atrás, os estudantes pesquisavam suas fontes bibliográficas em enciclopédias físicas. Passavam horas e horas em bibliotecas públicas para conseguir entregar um trabalho. Essas atividades parecem muito distantes do que conhecemos hoje, né? 

Mas o mundo hiper conectado e quase que totalmente digital é uma novidade! A geração que ingressa hoje nas Instituições de Ensino Superior é, em sua maioria, a primeira nativa digital. E, por esse motivo, dificilmente opta por cursos nos modelos mais tradicionais de ensino: dando cada vez mais prioridade para a educação online ou híbrida. 

Chamada também de geração Z, esses jovens não conhecem o mundo pré internet e por isso se torna desafiador compreender as mudanças gigantescas que ela provocou na sociedade. 

Se voltarmos o olhar para as características educacionais da primeira décadas do nosso século, já podemos observar alguns pontos bastante divergentes do que vemos hoje em dia. Por exemplo, as salas de aula físicas e presenciais eram predominantes (em qualquer nível de ensino), os livros e materiais didáticos eram impressos, as avaliações ainda eram bastante tradicionais (em sua maioria provas escritas), e as TIC’s (Tecnologias da Informação e Comunicação) engatinhavam seu caminho até a sala de aula. 

Podemos concordar que é um cenário bastante diferente, né? Agora imagine as transformações se fizermos um recorte de 40, 50 anos. Um tempo sem internet e maneiras de se comunicar bastante limitadas. Por vezes é preciso revisitar o passado, para entender o presente e construir o futuro que queremos! 

Para compreender as transformações educacionais que passamos na nossa época, é necessário que se atente ao processo como um todo. Entendendo que a educação não é linear, estável ou inalterável. Que o fazer pedagógico transpõe o tempo e o espaço. 

Educação formal e não-formal

Como falamos na introdução desse artigo, a educação é um processo em constante transformação, e justamente por esse motivo nos permite interpretá-la de diferentes formas ao longo do tempo. Por um período, entendeu-se por educação apenas a aprendizagem em sala de aula, aquela mais tradicional. Era bastante comum, inclusive, que a educação das crianças fosse de responsabilidade do professor. 

Ou seja, a educação formal e presencial era não apenas a regra, mas a única possibilidade conhecida! 

Com o passar do tempo, advento das tecnologias e metodologias mais inovadoras - principalmente se comparadas às tradicionais, passou-se a enxergar o professor não mais como responsável pela aprendizagem dos alunos. Este, tomou seu papel de protagonista e o professor, de mediador. 

Em outras palavras, entendemos que o processo de aprendizagem é contínuo, de responsabilidade do próprio estudante, e mediado pelos conhecimentos compartilhados do professor. 

Foi dessa forma que passou-se a valorizar a educação não-formal, e introduzi-la como integrante fundamental de uma carreira de sucesso. 

Podemos entender a educação não-formal como processos não escolarizáveis, ou seja, que se desenvolvem nas organizações sociais e passam por diversos filtros culturais e morais para serem interpretados pelo indivíduo. 

Segundo Maria da Glória Gohn, pesquisadora, professora, e pós-doutora em Sociologia, a educação não-formal está, por exemplo, no centro das atividades das ONGs, nos programas de inclusão social, especialmente no campo das artes, educação e cultura. 

“Esta formação envolve aprendizagens tanto de ordem subjetiva, relativa ao plano emocional e cognitivo das pessoas, como aprendizagem de habilidades corporais, técnicas, manuais etc, que os capacitam para o desenvolvimento de uma atividade de criação, resultando um produto como fruto do trabalho realizado.” 

Ultrapassando as barreiras do tempo e espaço 

O que é preciso para aprendermos algo novo? Alguns podem dizer que é a vontade e curiosidade individual; outros, que é a oportunidade de acesso a materiais e/ou vivências. Mas na verdade, o aprendizado começa a se desenvolver quando existe o interesse, aliado a oportunidade e com a interação do indivíduo com o ambiente. 

O processo de ensino e aprendizagem, sendo ele formal ou não-formal, têm o mesmo objetivo final: proporcionar independência, pensamento crítico, habilidades e competências teóricas e emocionais. 

“Não existe educação neutra. A educação é uma construção e reconstrução contínua de significados de uma realidade. Ela prevê a ação do homem sobre essa realidade. Portanto, sua ação e reflexão podem alterá-la, relativizá-la ou transformá-la.” - Paulo Freire. 

Sendo o processo educacional mutável e aderindo constantemente às inovações tecnológicas, foi preciso transformar mais do que apenas a pedagogia. Os ambientes tradicionais - as salas de aula físicas - perdem gradativamente o seu espaço à medida que avançam as modalidades de ensino mais alternativas, como o remoto e híbrido. 

Hoje em dia, para que uma Instituição de Ensino seja efetivamente inovadora e consiga atingir o maior número de públicos possíveis, é preciso que os gestores tenham uma visão estratégica quanto aos novos tempos e espaços ocupados pela aprendizagem. 

É necessário que se pense, pelo menos um pouco, com a cabeça de um estudante. Que precisa conciliar educação com trabalho, e por vezes com a administração de uma residência. Indivíduos tão atarefados valorizam demais cada minuto do seu dia. O tempo passa a ser cada vez mais precioso, e quem possibilita essa economia tem tudo para se destacar! 

Um novo público no Ensino Superior

Os tempos são outros, e inegavelmente as Instituições de Ensino Superior que quiserem continuar ativas e competitivas no mercado, precisam se adequar às exigências e necessidades dos novos estudantes. 

Esse indivíduo faz parte, em sua maioria, das gerações que cresceram a partir do advento da internet e das mídias digitais. Ou seja, já pensam na tecnologia não mais como um diferencial, mas como parte fundamental de sua rotina. O que irá determinar, de fato, é a forma com que a IES conduzirá o processo de ensino e aprendizado desse aluno. 

Justamente por ter características imediatistas, a nova geração de acadêmicos não irá tolerar o tradicional. Sentar em uma sala de aula por horas, escutando um professor falar e escrever em um quadro, enquanto todos copiam piamente, não faz parte da realidade desse indivíduo. Como mencionamos, o tempo é precioso para ele e com certeza esse cenário fará com que ele sinta seu tempo desperdiçado. 

Pesquisadores da Universidade do Vale do Rio dos Sinos desenvolveram uma pesquisa com jovens universitários nascidos entre 1995 e 2010, a chamada Geração Z. O foco é entender melhor suas características pessoais, e como se comportam inseridos em um contexto de Universidade. Os primeiros resultados, voltados a entender os aspectos de suas personalidades, revelaram as seguintes características dominantes:

Lealdade (76,3%);

Mente Aberta (73,4%);

Responsabilidade (67,1%);

Determinação (67,1%);

Inclusão (64%).

Ao passo que, as características que menos se identificam são:

Conservador (17%);

Oportunista (20,8%);

Inspirador (27,3%);

Reflexivo (32%);

Visionário (32,9%).

Ou seja, ao analisarmos de forma geral essas características, podemos observar que o novo público tem em si mais protagonismo e toma a frente de suas decisões. Isso é corroborado pelo dado, da mesma pesquisa, de que 50% dos entrevistados veem o professor com um papel de orientador/mediador do processo de ensino e aprendizagem. Seguindo essa mesma linha, podemos compreender que esse estudante da nova geração não será aquele que se conforma com sua realidade, ou deixa-se influenciar pelas gerações anteriores. 

Tecnologia como diferencial: Os novos formatos de educação

Ao longo desse conteúdo falamos algumas características principais dessa nova geração de estudantes, como: Flexibilidade, Mente aberta às inovações, Imersão tecnológica, etc.  Pensando nisso fica bastante claro que todos esses aspectos de personalidade não combinam em nada com a educação tradicional. Muito pelo contrário. 

Então, como atingir esse novo público? A resposta é simples: entenda o que ele procura, e molde a sua Instituição as necessidades dele! Bom, a resposta pode ser simples, mas a prática é bem mais complexa. Reformular uma IES não é tarefa fácil, mas existem alguns pontos cruciais de onde se pode partir. 

Para eles (a nova geração), a tecnologia não é mais uma novidade, então basear sua estratégia de ser inovadora apenas por oferecer algo tecnológico, tem muita chance de falhar. O que vai, efetivamente, ser inovador com esse público é a aplicação dessa tecnologia: ela precisa ter intencionalidade pedagógica, e efetivamente complementar o processo de ensino e aprendizagem. 

Os modelos de aprendizagem também precisam ser revistos. Sair do tradicional, expositivo e presencial é quase que uma obrigação das Instituições de Ensino. Esse formato já é ultrapassado, e nem combina em nada com a rotina e os desejos da nova geração (hiperconectada e atarefada). Para isso, é importante que se aposte em novos formatos de educação como o Ensino Híbrido, por exemplo. 

Hibridização da Educação

Julia Freeland Fisher, diretora para educação do Clayton Christensen Institute, entidade que estuda a inovação em diversos setores da sociedade, recentemente deu uma entrevista para a Revista Época sobre Ensino Híbrido e o futuro da educação. Para ela, o ‘blended learning’ é um processo em curso e sem volta, em que o aluno passa a ser o centro da aprendizagem e o professor, mediador. 

“Tudo isso combinando experiências de aprendizagem flexíveis e on-line dentro das instituições feitas de tijolo e argamassa que ainda contam com comunidades presenciais, interações sociais e cuidados para os estudantes.”

Ela complementa dizendo que os modelos de aprendizagem inseridos no ensino híbrido utilizam o online para possibilitar novas formas de tempo e espaço. Isso permite que os alunos sejam mais flexíveis com seu aprendizado, e que os professores tenham mais tempo para instruir grupos pequenos, mais direcionados. 

Trazendo mais para a realidade brasileira, temos um dos grandes expoentes nas discussões sobre Ensino Híbrido. O professor-doutor José Moran, em entrevista para a revista Educação, diz que no ensino superior, o momento de ir para a aula e encontrar um professor deveria ser um momento de culminância, de fazer algo extraordinário não só para ouvir alguma coisa. Pois para ouvir, o professor pode gravar um vídeo.

Ele ainda complementa dizendo que hoje em dia, o encontro presencial precisa ser justificado. Ou seja, deslocar-se até qualquer universidade significa encontrar algo que valha a pena. 

“É como quando se marca um encontro com alguém para tomar um café: trata-se realmente de algo especial encontrar essa pessoa, você quer conviver, você tem várias razões. Caso contrário, faria uma ligação, abriria a câmera e pronto, discutiria um assunto. Nós temos tantas possibilidades de fazermos as coisas online, que para se encontrar fisicamente, deve existir algo mais.”


Ao analisarmos bem as características do novo estudante, levando em conta também as transformações de toda uma sociedade, fica bastante claro que os modelos tradicionais de ensino estão ultrapassados. Chegou a hora de reavaliar os modelos, entender a importância da inovação (tanto tecnológica quanto metodológica) e colocar como prioridade as necessidades desse público. 

A hibridização da educação é um processo em curso e que já deixou de ser tendência educacional. É uma realidade. O híbrido é cada vez mais procurado pelos estudantes e, daqui para frente, conseguirá ainda mais espaço na comunidade acadêmica. Tudo isso porque alia a inovação tecnológica, pedagógica e metodológica com flexibilidade, melhor gerenciamento de tempo e espaço.