Depois dos desafios impostos pela pandemia em 2020, muitos educadores e estudantes vêm se perguntando: quais as próximas atualizações da educação?
Em especial no Ensino Superior, são inegáveis as mudanças desde os processos de aprendizagem até as maneiras de avaliações e dinâmicas em salas de aula. O EAD vem em constante crescimento desde o ano de 2018, quando teve seu número de matrículas aumentado em 50,7% em relação ao ano anterior, como apontado no estudo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Os constantes avanços na educação alteram proporcionalmente as demandas da sociedade e as buscas na hora de ingressar em uma instituição de ensino. O relatório de 2019 do Horizon Report Higher Education Edition, desenvolvido pela ONG Educause, com 98 especialistas, já apontava um número considerável de modificações educacionais para os próximos anos.
Realidade aumentada, personalização de salas virtuais e blended learning são alguns pontos destacados pelo artigo como inovações importantes.
Perspectivas por período
Ainda de acordo com o material divulgado pela Educause, é possível fazer uma divisão temporal em curto, médio e longo prazo das tendências-chave mapeadas.
A curto prazo, levando em consideração os avanços tecnológicos na educação em 2020, o redesenho dos espaços de aprendizagem do presencial para o remoto e a implementação do ensino híbrido nas instituições são propensos a ocorrer entre um período de um a dois anos.
A cultura de inovação é o ponto crucial para as transições educacionais a médio prazo. Ela se relaciona com a criação de ambientes propícios ao desenvolvimento máximo das capacidades do aluno, o estimulando a gerar novos aprendizados. Isso, claro, envolvendo as novas tecnologias para a resolução de problemas ou como base dos processos de ensino. Nesse ponto, o estudante deve ser sempre o ponto central das movimentações. É pensando nele, e nas necessidades dele, que a instituição consegue incentivar a cultura de inovação.
Agora, a longo prazo, é quando todas as transformações anteriores se encontram. Para os especialistas, é nesse momento em que as organizações reformulam as suas práticas de ensino e conseguem, então, perpetuar as tecnologias no processo de aprendizagem. Segundo o relatório, é nessa fase que os cursos remotos e presenciais realmente atingem uma fusão
Tecnologia
Falar sobre as perspectivas e tendências educacionais do futuro é muito lindo. Mas, como todos sabemos, a implementação disso com sucesso é a grande questão. Conforme dados do IBGE, o Brasil possui uma grande parcela populacional sem contato com o digital: um contingente de 170 milhões de pessoas (mais de 80% da população total).
Além disso, o aperfeiçoamento do corpo docente das instituições de ensino em relação ao domínio das ferramentas digitais, também pode se tornar um grande desafio. Segundo a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Mára Lúcia Carneiro, é imprescindível que as formações docentes sejam mais específicas e direcionadas.
‘’O grande problema dos cursos de formação é que eles ensinam tecnicamente, mas faltam algumas coisas, por exemplo: como moderar um fórum, melhores formas de interagir e engajar os alunos, quais ferramentas usar e em qual situação. É isso que eu acho que falta na formação’’.
A inserção da tecnologia nos processos de aprendizagem também foi um ponto destacado por Mára. ‘’A descoberta de novas possibilidades em sala de aula, como a tecnologia, faz com que a aula nunca mais seja a mesma.’’
Ensino Híbrido
A maior acessibilidade, democratização da aprendizagem e modelos educacionais diversos fazem do Ensino Híbrido uma das maiores apostas para a educação dos próximos anos. Para a professora, 2020 fez com que alguns docentes se dessem conta de que algumas disciplinas e conteúdos, podem ser desenvolvidos a distância. Para quebrar o estigma imposto sobre as modalidades que envolvem a educação remota, é preciso que haja um planejamento bem estruturado.
‘’É necessário desenvolver estratégias e planejar as disciplinas de forma ampla, não limitando a um modelo ou conteúdo fechado. É fundamental ter essa flexibilidade para que funcione, porque todos nós ainda estamos aprendendo a estruturar tempo e espaço.’’
As plataformas de tecnologias são capazes de integrar e aproximar as pessoas. Através disso, Mára diz que se torna mais fácil prestar atenção no grupo completo e criar conexões, uma vez que existe uma maior possibilidade de comunicação (síncrona e assíncrona).
Dicas da professora Mára para iniciantes no EAD
- Não tenha medo de experimentar: O receio é comum com qualquer novidade, e é importante que se explore os recursos disponíveis. Entretanto, a professora alerta para que esse movimento seja feito com cuidado. ‘’É o que eu digo para meus alunos: quando tu está tentando algo novo, preste atenção no passo a passo para conseguir desfazer’’;
- Dê prioridade para o que é gratuito: A adaptação aos recursos tecnológicos é muito pessoal, e depende também do conteúdo e abordagens de cada disciplina. Portanto, não gaste dinheiro antes de ter certeza de que aquela ferramenta é a ideal pra você. O mercado está cheio de ferramentas de qualidade gratuitas ou com período de testes disponível;
- Planejar a organização das aulas: O aluno deve estar a par dos processos e metodologias que serão utilizados no decorrer do semestre. Para isso, estruture muito bem os planos de aula e documente sempre que possível;
- Seja detalhista: No modelo remoto, nem sempre a aula será síncrona... E é aí que mora o detalhe! O professor deve ser específico e descritivo quando solicitar alguma atividade. ‘’Temos que pensar que, quando o aluno assiste a aula de forma assíncrona, ele precisa ter uma orientação detalhada sobre aquilo que se espera que ele faça’’;
- Aproveite os momentos síncronos: A criação de laços é muito mais fácil quando podemos ver uns aos outros. Então, a última dica da docente é para que os momentos de aula em vídeo sejam bem aproveitados, para que se construa relações e rompa-se as barreiras de contato.
As tendências educacionais para um futuro próximo se baseiam no entendimento das demandas dos estudantes e na busca pelas melhores formas de unir educação com tecnologia. As possibilidades são diversas, e o sucesso de cada uma delas depende em grande medida de uma boa estruturação da instituição, aperfeiçoamento docente, comunicação clara com os alunos e respeito ao tempo das adaptações.
Para entender mais sobre o assunto, confira no link abaixo a entrevista com a professora Mára Carneiro.