O ensino remoto emergencial, que começou a ser aplicado nas Instituições de Ensino em 2020, foi uma solução encontrada pelos órgãos responsáveis para evitar a suspensão total das atividades escolares em meio a necessidade de isolamento social.

Entretanto, é essencial diferenciarmos esse modelo aprovado pelo Ministério da Educação em caráter emergencial, do formato real da educação a distância. E por que falamos isso? Bom, primeiramente precisamos levar em consideração que quando uma ação é tomada com urgência, não se tem tempo hábil para realizar todas as preparações necessárias.

No caso do Ensino Remoto Emergencial, em geral, podemos citar a falta de capacitação para professores; infraestrutura tecnológica precária ou inexistente; dificuldade de comunicação com os pais e responsáveis e por aí vai.

É imprescindível que essas diferenças estejam bem claras, tanto para as Instituições, quanto para os estudantes. Afinal, a educação online não pode ser definida pela forma como o ensino foi conduzido no ano passado e até nesse.

Dito isso, bora entender um pouco melhor sobre essas distinções?

Definições básicas

A primeira diferenciação entre os dois modelos está no próprio nome. Ensino Remoto Emergencial (ERE) se refere, justamente, a uma estratégia criada em caráter de urgência para evitar que os estudantes fiquem sem acesso às aulas durante o isolamento social.

A Coordenadoria de Integração de Políticas de Educação a Distância (CIPEAD) define o ERE como:

“Uma solução temporária e estratégica que permitirá, no contexto da Pandemia de Covid-19 – proporcionar à comunidade acadêmica a possibilidade de manter, dentro das circunstâncias possíveis, as atividades de ensino.”

Com isso podemos depreender que essa mudança foi idealizada para ser passageira, e não acontecerá nenhuma transição permanente de modelo educacional junto a instituição pública.

Agora, quando falamos em ensino a distância, estamos nos referindo a um modelo acadêmico com características pedagógicas próprias e que funciona sob uma lógica colaborativa, envolto em novas tecnologias e metodologias ativas. Mas, o que isso quer dizer?

Basicamente que o EAD, como uma modalidade oficial de ensino, oferece ao estudante muito mais do que a flexibilidade de horários e espaço. Ele é pensado como uma experiência: vai desde a aplicação dessas metodologias, utilização de gamificação e personalização do ensino, até a construção de um Planejamento Pedagógico que coloque o aluno como protagonista do seu processo de aprendizagem, ensinando, também, autonomia e responsabilidade.


Preparação do corpo docente: ERE X Ensino a distância

O ERE pegou todo mundo de surpresa, inclusive os próprios professores, que precisaram engavetar todo o seu planejamento pedagógico anterior e começar tudo do zero. Assim, a preparação teve que ser feita às pressas, sem tempo hábil para capacitações, além de investimentos com poucos recursos e falta de organização especializada.

Para corroborar isso, trouxemos alguns dados bastante preocupantes que foram levantados pelo Instituto Península, em maio de 2020.

  • 83% dos professores não estavam preparados para ensinar online;
  • 90% dos docentes informaram na pesquisa que nunca tinham tido qualquer experiência com um ensino online;
  • 55% afirmaram não terem recebido qualquer tipo de suporte ou treinamento para ensinar de maneira não presencial.

Hoje, mais de um ano após a coleta dos dados acima, poderíamos estar pensando que existiu um tempo considerável para diminuir essas lacunas. Mas uma pesquisa recente, publicada na Revista Brasileira de Alfabetização, apontou que para mais de 70% dos professores brasileiros, a sala de aula remota baseou-se em “uma tela de celular com formação de turma no WhatsApp”.

Isso tudo nos faz pensar que, mesmo sendo uma decisão importante e de certa forma inevitável durante a situação de emergência, o ensino remoto apresentou diversas falhas.

Para ser considerado um modelo de ensino a distância, alguns critérios legais e subjetivos precisam ser preenchidos. Legalmente falando, o Ministério da Educação define o EAD como:

“Modalidade educacional na qual alunos e professores estão separados, física ou temporalmente e, por isso, faz-se necessária a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação.’’

Mas essa explicação, por ser mais abrangente e simples, não explora as características mais particulares desse modelo educacional. Para os autores da obra “Distance Education”, Michael Moore e Greg Kearsley, o EAD:

É o aprendizado planejado, que ocorre normalmente em um lugar diferente do local de ensino, exigindo técnicas especiais de criação do curso e de instrução, comunicação por meio de várias tecnologias e disposições organizacionais e administrativas especiais

Com isso, podemos entender que, para um curso online ser considerado a distância, e não apenas remoto, é necessário que haja uma preparação intensa e específica do corpo docente, gerencial e administrativo da Instituição para criar as diretrizes pedagógicas e metodológicas. Sem esse esforço, as aulas podem se transformar apenas em leituras massivas e vídeos do Youtube.

Como é a tecnologia em cada modelo?

Justamente por ter surgido como uma alternativa rápida e viável para a educação durante a pandemia, o ERE abusou pouco das capacidades tecnológicas. O mais comum, quando estamos em uma aula nesse formato, é o professor fazer uso de uma sala de videoconferência, deixar livros em bibliotecas virtuais, e atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem da Instituição, quando houver.

Ao mesmo tempo, quando falamos no EAD enquanto modelo de ensino, as possibilidades da tecnologia precisam ser exploradas ao máximo, sendo parte integrante e fundamental de todo o processo e não apenas servir como um suporte para o aprendizado.

Nesse sentido, podemos destacar alguns pontos importantes sobre as possibilidades tecnológicas no ensino a distância.

  • Interação e Conectividade: mesmo que alunos e professores não se encontrem presencialmente, não quer dizer que precise existir barreiras de comunicação entre eles. Afinal, a internet proporciona inúmeras funções capazes de integrá-los, como: aulas ao vivo; chats; fóruns; games interativos, etc.
  • Avaliações de Desempenho: avaliar a distância o crescimento dos estudantes pode parecer um processo complexo, mas quando abarcado por tecnologias realmente facilitadoras, tudo fica mais claro. Desde a participação em aula e quantidade de vezes que o aluno assistiu ao conteúdo gravado no LMS, até os dados de acesso e dúvidas em chats, tudo isso podem ser indicativos importantes sobre a qualidade da aprendizagem.
  • Personalizações: essa personalização vai muito além de deixar a sala de aula virtual e o LMS com as características da marca. Não que isso não seja significativo, mas estamos nos referindo a um sentido muito mais subjetivo, e que se relaciona diretamente com o entendimento de que cada estudante é único e precisa ter essa singularidade compreendida e aplicada na sua aprendizagem.

Em outras palavras, a personalização no ensino a distância também pode ser uma individualização das atividades. Cada um tem interesses, aptidões e conhecimentos prévios que, quando integrados aos conteúdos, podem facilitar muito a compreensão e domínio da aprendizagem. Afinal, por que eu vou dar uma atividade - que faz parte do currículo -  utilizando apenas jogos de videogame para interação se eu sei que o Pedrinho é apaixonado por livros de história?


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