Com certeza você já ouviu falar sobre a curricularização da extensão, não é? E mesmo que esse tema possa parecer bastante abstrato ainda, ele é uma normativa do Ministério da Educação (MEC), que determina a sua obrigatoriedade em todas as instituições de ensino superior até dezembro de 2022.
Hoje vamos te explicar um pouco mais sobre o que é a curricularização da extensão e como aliá-la aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Regulamentação
A curricularização da extensão pode ser entendida como o processo de inclusão das atividades de extensão no currículo dos cursos de graduação, que estava previsto no Plano Nacional de Educação (PNE) do decênio 2014/2024. Entretanto, essa estratégia educacional só foi regulamentada pela Resolução n° 7, de 18 de dezembro de 2018, gerida pelos órgãos do MEC, Conselho Nacional de Educação (CNE) e Câmara de Educação Superior (CES).
Um ponto importante trazido por essa nova regulamentação é a obrigatoriedade de que as atividades extensionistas ocupem 10% de toda a carga horária dos cursos de graduação. Ou seja, levando em consideração a indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão, entende-se que a formação completa do estudante vai muito além da sala de aula.
Segundo a normativa, as atividades de extensão podem ser definidas como:
“A atividade que se integra à matriz curricular e à organização da pesquisa, constituindo-se em processo interdisciplinar, político educacional, cultural, científico, tecnológico, que promove a interação transformadora entre as instituições de ensino superior e os outros setores da sociedade, por meio da produção e da aplicação do conhecimento, em articulação permanente com o ensino e pesquisa.”
As atividades de extensão são aquelas promovidas pelas instituições de ensino superior destinadas a interação entre alunos, comunidade e universidade com foco na troca de conhecimentos e em levar ao público geral as experiências vividas no âmbito acadêmico. Como exemplos de projetos de extensão podemos citar:
- Cursos, palestras e conferências;
- Projetos individuais de cursos para melhoria da qualidade de vida da comunidade, como hospitais móveis ou clínicas-escola;
- Cursos de férias ou de verão;
- Viagens de estudo.
Diretrizes para a extensão universitária segundo o FORPROEX
Curricularizar as atividades de extensão faz parte da legislação vigente, mas não é apenas por isso que as instituições devem investir nesse processo, afinal existe uma gama enorme de benefícios envolvidos.
Segundo Celso Niskier, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES)
“A curricularização da extensão é um processo socialmente referenciado, uma oportunidade para as IES terem um impacto social maior e ganharem sustentabilidade e melhorarem seus indicadores junto ao MEC".
No Fórum de Pró-Reitores das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras (FORPROEX), foram definidos cinco eixos para especificar as ações envolvendo a curricularização da extensão universitária no Brasil.
Interação Dialógica
Diz sobre as trocas de saberes nas bases da filosofia de Paulo Freire, e com foco na não hierarquização do conhecimento. Ou seja, o aluno como protagonista do seu próprio processo de ensino e aprendizagem, uma vez que o professor não é mais o único ser dotado de conhecimento em uma sala de aula.
A ideia dessa diretriz é justamente de que a educação deve ser democrática, entendendo que o aluno é um agente transformador de seu meio e dotado de valores e saberes prévios que devem ser respeitados e considerados.
Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade
Essa diretriz é focada na ideia de que o conhecimento do aluno é a soma das partes para formar um todo. Em outras palavras, para se ter uma formação completa e de qualidade ele precisa:
- Experimentar e experienciar novas áreas;
- Dialogar com profissionais e alunos de cursos diferentes;
- Poder transitar entre essas áreas de forma natural, e não ter a sua formação fechada apenas aos conteúdos de seu curso.
Indissociabilidade Ensino-Pesquisa-Extensão
Não se pode separar o ensino, a pesquisa e a extensão e colocá-los em caixas, afinal tudo está interligado no processo de aprendizagem. A extensão ocorre simultaneamente ao ensino de sala de aula, assim como a pesquisa acadêmica. Portanto, não podemos mais entender a extensão apenas como um “plus” no curso de graduação, afinal ela está inserida no currículo desse curso e deve ser compreendida como peça fundamental da formação.
Impacto na Formação do Estudante
É a possibilidade de conexão entre alunos, docentes e comunidade fora de sala de aula, em um ambiente multidisciplinar. Uma vez que o estudante passa a ter contato com diferentes realidades (históricas, culturais e sociais), ele adquire uma gama muito mais ampla de conhecimentos e passa a ser mais crítico em relação ao ambiente que vive e atua.
Impacto e Transformação Social
Por fim, o impacto social causado pelo estreitamento das relações entre universidade e comunidade, justamente a partir das atividades extensionistas, possibilita uma transformação social que beneficia não apenas a universidade e a comunidade como um todo, mas também os próprios estudantes envolvidos nas ações.
Aliando a curricularização da extensão aos ODS
Os objetivos de desenvolvimento sustentável foram o tema do nosso último artigo aqui no blog, e essas diretrizes, quando aliadas aos projetos de curricularização da extensão, formam um conjunto de estratégias e práticas extremamente proveitosas para a sociedade como um todo.
Segundo a professora-doutora em Administração, Janaína Schiavini, as Universidades são, inquestionavelmente, atores essenciais para que esse objetivos se concretizem e que consigamos atingir a agenda proposta até 2030.
Unitar: plataforma para compartilhar experiências
Na ideia de possibilitar um encontro mais próximo entre as universidades que desenvolvem ações alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, foi criada uma plataforma que elenca cada projeto e as instituições que o desenvolvem. A Rede permite que as universidades sejam informadas sobre as realizações umas das outras, nas atividades de aprendizagem dos ODS, a fim de criar parcerias entre si, enquanto aprimoram seu sistema educacional.
Essa plataforma, que funciona como uma grande rede de networking, foi criada pela United Nations Institute for Training and Research (Unitar), e têm hoje três Universidades brasileiras integrantes que, segundo definição da própria Unitar, caracterizam-se da seguinte forma:
Comprometimento com a defesa dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais para todos, independente de raça, sexo, língua ou religião. Foi pioneira na criação de uma Bancada de Advocacia LGBTQIA+, sendo uma das primeiras instituições brasileiras a permitir o nome adotivo ao invés do nome legal de nascimento. Também promove ações de assistência aos estudantes, garantindo moradia, alimentação saudável e oportunidades de estágio para alunos em situação de vulnerabilidade.
2. Unicamp
Focada no cumprimento do ODS 5, que diz respeito a Igualdade de Gênero, possui uma comissão de gênero e diversidade que promove programas de extensão de acolhimento a refugiados, acessibilidade, povos indígenas e diversidade étnico-racial. Segundo a própria instituição, todas as ações têm como objetivo não apenas o ODS 5, mas cumprí-lo para atingir o ODS 10 (de redução das desigualdades).
3. Universidade Federal Fluminense.
A missão declarada da UFF é produzir, disseminar e aplicar conhecimento e cultura de forma crítica e socialmente relevante. A universidade opera de acordo com os seguintes princípios básicos: excelência acadêmica, impacto social, inovação e transferência de conhecimento para a sociedade em geral. Os projetos desenvolvidos pela Universidade alinham-se diretamente com alguns dos ODS, como: Erradicação da Pobreza (ODS 1), Fome zero (ODS 2), Boa saúde e bem-estar (ODS 3), Educação de qualidade (ODS 4) Desigualdades reduzidas (ODS 10) e Cidades e comunidades sustentáveis (ODS 11).
Clicando abaixo, você pode ter acesso a lista completa de todas as universidades que integram a rede da Unitar, e conhecer mais sobre os projetos extensionistas das instituições brasileiras:
Quando falamos em espaços formadores de pensamento crítico, logo pensamos nas universidades. Ter a possibilidade de integrar as atividades de cada uma delas em prol dos objetivos de desenvolvimento sustentável é uma forma de levar conhecimento para toda uma comunidade, ao mesmo tempo que contribui-se para as ações de transformação da realidade.
As Universidades, entendendo a importância tanto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, quanto da própria curricularização da extensão, podem desenvolver projetos que se alinhem aos ODS e promovam essa disseminação de conhecimento.