Como aplicar a nova BNCC no plano de aula?
Neste artigo, vamos ilustrar esta nova abordagem educacional que propõe um outro foco para os objetivos de aprendizagem, que deixam de estar vinculados à memorização de conteúdos e passam a valorizar, principalmente, a capacidade dos alunos em aplicar os conhecimentos em contextos diversos. Essa modificação, entretanto, não é tão simples para quem é educador, pois exige uma mudança profunda na estruturação das aulas e dos currículos. Com este artigo, pretendemos explicar a estrutura da base e ajudar os educadores a utilizar a BNCC na montagem de seus planos de aula.
O que é a Base Nacional Comum Curricular?
A BNCC é o documento normativo que estabelece quais competências os alunos brasileiros necessitam desenvolver em cada etapa curricular nas redes de ensino, tanto em instituições públicas quanto nas privadas, tornando-se uma referência obrigatória para elaboração dos currículos escolares e propostas pedagógicas. Ela abrange os níveis de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Na Educação Infantil há a separação em três grupos etários:
- Bebês (zero a 1 ano e 6 meses);
- Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses);
- Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses);
Para cada grupo etário foram estabelecidos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento específicos.
Já no Ensino Fundamental, as competências e habilidades são apresentadas por disciplina, sendo que estas estão contempladas em áreas do conhecimento. Por exemplo, a área de Ciências Humanas é composta pelas disciplinas de Geografia e História. Além da definição referente ao nível das disciplinas, também ocorre a especificação das competências e habilidades por ano escolar (do 1º ao 9º). Essa definição por anos não ocorre no Ensino Médio.
No Ensino Médio, as competências são designadas por grandes áreas do conhecimento; e as habilidades são associadas a cada competência, sem definição de ano ou da disciplina em que devem ser ensinadas. Um exemplo é a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, que contém suas próprias competências de base e não há especificações de disciplinas dentro dessa área.
O que podemos entender com isso?
A nova BNCC trará mudanças diretas para o sistema educacional brasileiro, pois esse documento normativo dispõe as diretrizes para orientar professores e outros profissionais da educação na estruturação dos cursos e das aulas orientados pelo ensino baseado em competências e habilidades. Ela é, também, uma mudança no paradigma educacional e, por isso, levará um tempo até que consigamos colocá-la em prática, visto que os próprios educadores precisarão se reinventar para que a BNCC seja efetivamente aplicada.
Em um outro artigo aqui no blog, nós abordamos os conceitos de aprendizagem por competências e habilidades e vale a pena conferir para entender melhor essa modalidade.
No entanto, a diferença entre habilidades e competências é difícil de compreender, porque ambas possuem similaridades e estão extremamente relacionadas.
A confusão entre as duas acontece, principalmente, quando nos referimos a habilidades cognitivas, as quais soam muito parecidas com as competências. As habilidades são capacidades mais relacionadas ao campo da operacionalização. Por exemplo, no futebol, poderia se entender que “saber driblar” é uma habilidade importante.
Já as competências são capacidades relacionadas a situações mais amplas e que, portanto, precisam de um conjunto de capacidades mais específicas (habilidades) para se realizarem. Seguindo no exemplo do futebol, uma competência poderia ser “conseguir fazer os gols decisivos da partida”. Essa capacidade se configura como uma competência porque “fazer gol” é um dos principais objetivos do jogo e as competências estão relacionadas principalmente à execução de trabalhos e o alcance dos resultados desejados.
Relacionando-as com o nosso exemplo, a habilidade de “saber driblar” é apenas uma de um conjunto de várias habilidades necessárias para atingir a competência de “conseguir fazer os gols decisivos da partida”. Ela sozinha não garante que os gols sejam feitos, pois além de saber driblar, um jogar precisa ter outras habilidades para fazer os gols.
Na própria BNCC, temos este exemplo para ilustrar a diferença entre elas:
Quando uma das competências da disciplina de Geografia do Ensino Fundamental é “Utilizar os conhecimentos geográficos para entender a interação sociedade/natureza e exercitar o interesse e o espírito de investigação e de resolução de problemas”. Para que essa competência seja desenvolvida, está previsto o desenvolvimento de habilidades como “Descrever características de seus lugares de vivência relacionadas aos ritmos da natureza (chuva, vento, calor etc.)” e “Associar mudanças de vestuário e hábitos alimentares em sua comunidade ao longo do ano, decorrentes da variação de temperatura e umidade no ambiente”.
Contudo, é possível perceber que a competência se refere a uma capacidade mais ampla e relacionada a execução de trabalhos e à obtenção de resultados desejados, enquanto as habilidades se referem a capacidades mais operacionais para alcançar este objetivo final.
Compreendendo estes conceitos e suas diferenças, estamos prontos para demonstrar como estas competências e habilidades se aplicam nas seguintes etapas de ensino:
A etapa do Ensino Fundamental é dividida em 5 áreas do conhecimento:
- Linguagens
- Matemática
- Ciências da natureza
- Ciências humanas
- Ensino religioso
As áreas do conhecimento são subdivididas em disciplinas, as quais não vamos especificar neste artigo pois são muitas. Cada uma das disciplinas é separada em “anos iniciais” do 1º ao 5º ano e “anos finais” que vão do 6º ao 9º ano. As competências são associadas às disciplinas e a cada um dos anos possui habilidades específicas. As mesmas, no entanto, são definidas, por disciplina, para toda a etapa do Ensino Fundamental. Já as competências não estão relacionadas com os anos. Para facilitar o entendimento, vamos dar um exemplo:
A disciplina de Geografia, que está dentro da área das Ciências Humanas, possui 7 competências para o Ensino Fundamental. Depois de apresentadas as competências, o documento inicia a apresentação das habilidades por ano, primeiramente dos anos iniciais. Em cada um dos anos são estabelecidas uma série de habilidades que precisam ser desenvolvidas naquela disciplina. O mesmo padrão se repete para os anos finais.
Espera-se que ao sair do ensino fundamental o aluno tenha desenvolvido todas as competências estabelecidas para esta etapa, as quais foram sendo desenvolvidas conforme se iam trabalhando as habilidades.
A etapa do Ensino Médio é dividida em 4 áreas do conhecimento:
- Linguagens e suas tecnologias
- Matemática e suas tecnologias
- Ciências da natureza e suas tecnologias
- Ciências humanas e sociais aplicadas
No Ensino Médio não há subdivisão por disciplina. Também não há divisão por ano de ensino. Ou seja, as competências e habilidades são definidas dentro de cada área do conhecimento, para todo o período do Ensino Médio.
Modelo de plano de aula usando um BNCC
Apresentamos ao fim do texto um exemplo de como pode ser estruturado um plano de aula baseado na BNCC. Neste modelo, está presente tanto a competência, que seria a finalidade maior a ser alcançada com o conjunto das aulas, quanto a habilidade da BNCC que será trabalhada. Entretanto, existe um nível de especificação de trabalho maior, pois com base na habilidade vinda da BNCC, que ainda é bastante ampla, o professor define uma habilidade específica para a aula, a qual nós denominamos de “habilidade aplicativa”. A habilidade aplicativa é construída da seguinte forma:
São definidos os verbos que constituem o objetivo da aprendizagem, que devem estar relacionados aos objetivos da habilidade da BNCC. Depois, especifica-se o recurso didático principal utilizado na sala de aula. Por fim, a competência é colocada como o objetivo maior a ser desenvolvido com a habilidade trabalhada nessa aula. A estrutura escrita fica:
VERBO E OBJETO DO CONHECIMENTO + por meio de RECURSO DIDÁTICO + para COMPETÊNCIA
Por exemplo, a partir da habilidade da BNCC “Discutir e elaborar, coletivamente, regras de convívio em diferentes espaços (sala de aula, escola etc)”, uma habilidade aplicativa para a aula poderia ser “Elaborar coletivamente as regras de convívio da sala de aula por meio de roda de conversa e votação para agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, propondo ações sobre as questões socioambientais, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários”.
Abaixo você pode ver como fica uma estrutura do plano e pode baixar um arquivo editável para usar o modelo nas suas aulas!
Para baixar o modelo editável, acesse o link:
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