Transformando a realidade da educação brasileira: currículos inovadores como uma mudança urgente
O que é preciso para transformar o futuro da nossa educação? Muito se argumenta, hoje em dia, sobre qual o perfil de profissional que as instituições de ensino têm entregado ao mercado de trabalho e, por consequência, se a formação oferecida é realmente de qualidade e eficaz.
Recentemente, em uma entrevista para a Revista Ensino Superior, o especialista da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Andreas Schleicher, argumentou que a educação brasileira não prepara o estudante para a realidade do mercado.
“Muitas instituições de ensino brasileiras vendem aos jovens brasileiros um certificado de graduação, mas não oferecem boa educação, e isso é realmente um problema. Os jovens conseguem um papel que garante uma certificação, mas há muito pouca garantia de qualidade.”
Existe, portanto, um abismo entre o que as nossas universidades entendem como formação superior e o que a sociedade/mercado espera desses futuros profissionais. E é justamente esse abismo que vêm tornando os estudantes cada vez menos preparados humana e profissionalmente para ingressar e ter sucesso na carreira.
É claro que não existe nenhuma fórmula mágica ou rápida que seja capaz de transformar, da noite para o dia, o processo de ensino e aprendizagem brasileiro. Entretanto, cada vez mais especialistas educacionais vêm abraçando a ideia de reformulação da base que sustenta as práticas pedagógicas: os currículos.
Hoje queremos te apresentar um pouco mais sobre os currículos inovadores, e o quanto repensar esses modelos pode ser benéfico para a educação!
A realidade da educação brasileira
O modelo de educação mais tradicional infelizmente ainda é bastante empregado e difundido em instituições brasileiras. Ele surgiu em meados dos anos XIX, como uma forma de universalizar o acesso à educação. O intuito desse modelo, quando criado, foi de ser massificado, ou seja, focando em abrir novas vagas e levar o estudante até as instituições. Entretanto, por ser mais rígido e fechado às novidades, o modelo não abrigava as novas tecnologias e metodologias de ensino.
Com certeza você, ou alguém que você conhece, teve a instrução educativa baseada na ideia de que os alunos adquirem conhecimentos que são passados pelo professor durante o período de aula. Seguindo essa linha, o aluno nada mais é do que um receptáculo de conhecimentos, que não é ativo em seu próprio processo de aprendizagem.
Aí podemos nos perguntar a que ponto a adoção quase que universal desse formato tradicional de educação nos levou? Baseando-se em dados divulgados pela pesquisa do Mapa do Ensino Superior, mais de 30% dos alunos devidamente matriculados em cursos de graduação de instituições de ensino privadas evadiram em 2019. Cursos como Ciências da Computação e Administração acumulam uma taxa de evasão superior a 35%.
Segundo o último censo da Educação Brasileira, realizado pelo INEP, a média de desistência em cursos superiores é de 21% (balanceando entre privadas e públicas). Quando analisamos esse dado em números absolutos, representa mais de um milhão de estudantes matriculados. Ainda segundo a pesquisa, ao voltarmos nosso olhar apenas às instituições privadas, os dados de evasão podem chegar a 25%.
Transformando o cenário aos poucos
Quem não quer transformar a realidade da educação brasileira, não é mesmo? Mas é claro que, tratando-se de uma estrutura muito maior e complexa do que ações individuais, as mudanças precisam vir como passos de formiguinhas para, então, transformarmos um sistema.
Quando pensamos na base da educação superior brasileira, nos pilares fundamentais para que ela exista, podemos dividi-los em 4 setores fundamentais:
- Poder Público;
- Gestores de IES;
- Corpo docente;
- Estudantes.
Vamos focar, nesse momento, em duas delas para traçar alguns passos importantes para uma reestruturação na qualidade educacional. Pensando, portanto, no papel institucional e administrativo envolvido nas ações dos gestores de instituições de ensino, fica fácil elencar algumas ações que teriam um impacto significativo, como por exemplo:
- Aquisição de equipamentos de ponta;
- Contratação de um corpo docente qualificado;
- Investimento em infraestrutura (física e digital);
- Planejamentos eficazes e gestão financeira.
Falando do corpo docente, podemos pensar nas seguintes questões:
- Reformulação das atividades pedagógicas;
- Inserção de tecnologias interativas e metodologias ativas no cotidiano das salas de aula;
- Capacitações constantes para estar sempre atento às tendências;
- Planejamento de conteúdos;
- Estímulo ao desenvolvimento das habilidades e competências dos estudantes, e por aí vai.
Todos esses passos, é claro, não são regras e tem suas variações a depender dos processos de cada instituição. Mas uma coisa é certa, independentemente de quais estruturas se seguem, o objetivo final deve ser sempre o mesmo: preparar o estudante para o mercado de trabalho da melhor forma possível.
Agora pensemos juntos: Levando em consideração todos os pontos levantados no tópico anterior acerca dos dados de evasão, que falam muito sobre a qualidade das metodologias de ensino tradicionais brasileiras, e pensando que o objetivo é tornar o aprendizado cada vez mais assertivo, por onde pode-se começar uma mudança interna?
Como os currículos inovadores representam uma transformação?
Inovar no desenvolvimento dos currículos não é apenas inserir disciplinas novas ou uma aula em algum laboratório de tecnologia. É preciso uma mudança estrutural e metodológica, inclusive na forma com que o professor conduz as aulas e atividades. A ideia aqui é, justamente, incentivar as habilidades de soft skills dos estudantes ao invés da preferência tradicional nas hard skills.
Segundo a obra 21 lições para o século XXI, do historiador israelense Yuval Harari, a Educação é um dos pilares fundamentais que manterá a espécie humana. Sobre isso, ele argumenta, então, que, para uma educação ser eficaz, a última coisa que o professor deve fazer é dar informação aos seus alunos. Para ele, o que se deve buscar construir é a capacidade de interpretação de uma informação para que se extraia dele o sentido e se possa contextualizar a realidade do mundo.
Iniciamos esse artigo falando sobre o abismo existente entre o que é a educação brasileira e o que o mercado de trabalho espera de um futuro profissional. Sobre isso é importante destacar que, cada vez mais, esse mercado exige para além das técnicas, habilidades e competências cognitivas, socioemocionais e de resiliência dos seus funcionários. Pensando nisso, a forma como aprendemos em instituições tradicionais parece cada vez mais distante do ideal.
Para transformar essa realidade é preciso começar pela base, ou seja, pelo currículo empregado pelas IES. Um primeiro passo pode ser uma revisão dos objetivos gerais e específicos de cada curso, para que se alinhem também ao que é esperado desses profissionais em formação. A partir disso, planejar e estruturar a inserção de disciplinas e competências mais sociais e emocionais. Por exemplo:
- Capacitações para o trabalho multidisciplinar;
- Desenvolvimento da auto suficiência;
- Auxiliar o aluno na construção de planejamentos financeiros;
- Desenvolvimento de habilidades de negociação em ambientes profissionais.
É claro que esses tópicos são sugestões que devem ser adaptadas ao propósito e objetivo de cada curso e disciplina, mas a ideia geral é justamente essa: a partir da revisão do perfil do estudante e do que o mercado espera dele, promover uma transformação nas diretrizes pedagógicas e formar egressos cada vez mais preparados para a realidade do mundo.