EAD como democratização ou segregação de conhecimentos?

5 pontos para se pensar na EAD como democratizadora de conhecimentos

O Brasil ainda possui uma das menores taxas de acesso ao ensino superior com base nos dados emitidos pela OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). No entanto, em função da educação a distância, foi possível ampliar a oferta de ensino, alcançando assim, outros públicos e realidades socioeconômicas. O ensino superior ainda é um desafio, bem como sua proposta através da EAD.

Ainda que sejamos um país democrático, que fale sobre direitos e deveres e a participação dos cidadãos em sua comunidade, sabemos o quanto este discurso ainda está distante de nossa realidade. O Brasil é um território extenso e dentro de seu espaço, possui diversas culturas e etnias. Se formos pensar de norte a sul, veremos quantas diferenças, bem como dialetos e outras características são distintas em nosso povo. Não somente em nossa biodiversidade, como também alimentação, nível educacional, entre outros aspectos.

O acesso às oportunidades, bem como os direitos e deveres ainda são bastante distintos conforme cada região do Brasil. E, ainda que pensemos em uma região exclusivamente, observando seu micro espaço, presenciaremos também muitas diferenças e disparidades. Isso significa que por mais que nos identifiquemos enquanto um país democrático, infelizmente não conseguimos colocar toda a democracia em prática.

A educação não é democrática, ela não está disponível a todos e não tem o mesmo grau de excelência. Instituições privadas possuem mais recursos, principalmente em educação básica.

Um dado marcante em infraestrutura é o número de unidades com rede de esgoto: menos da metade (41,6%). Outros 52,3% dispõem apenas de fossa, enquanto 6,1% das escolas não têm sistema de esgoto sanitário. (Censo Escolar da educação básica, Correio Braziliense)

Os indivíduos que conseguem ter uma educação de qualidade, desde a pré-escola, definitivamente não estão em igualdade para o acesso ao ensino superior. Sabemos que eles estarão mais bem preparados para acessar às universidades mais disputadas e para os cursos mais concorridos, como é o caso dos cursos de medicina, direito, jornalismo etc.

É preciso discutir novas soluções educacionais. Não haverá uma receita ou a melhor opção, no entanto é necessário pensar em alternativas que tenham a capacidade de alcançar o maior número de pessoas e oportunizar a elas não só um ensino superior como também sua qualidade e excelência. Criar melhores condições para uma democracia efetiva.

Educação EAD como alternativa

Há bastante tempo fala-se em educação a distância. Esta que tem a capacidade de alcançar não só todas as faixas socioeconômicas, mas também diversas faixas territoriais. Sua amplitude consegue chegar aos mais extremos e remotos locais e proporcionar uma educação àqueles que em muitos casos não têm condições de usufruir de um estudo no formato tradicional.

Já é bastante difundida e escolhida não só para cursos de graduação como também pós graduação e demais cursos no formato livre. Através dela muitas pessoas tiveram condições de colocar seus sonhos em prática e obter um diploma validado pelo MEC. É importante também salientar a existência da Universidade UAB (Universidade Aberta do Brasil) que através de parcerias com outras instituições públicas e privadas tem a capacidade de oferecer diversos cursos na modalidade EAD com acesso gratuito para aqueles que não conseguem financiar seus estudos.

Atualmente existem muitas frentes pensando sobre a educação EAD, algumas a favor da modalidade e outras contra sua utilização (principalmente quando se fala em educação 100% a distância). Para alguns especialistas, acredita-se ser prejudicial o ensino a distância por não oferecer o mesmo contato interpessoal que o ensino presencial, além de outros fatores como qualidade de material e aulas expositivas do professor. Há também a preocupação sobre a quantidade de novas faculdades ofertando cursos e o cuidado para distinguir instituições sérias e aprovadas pelo MEC.

De fato a EAD é um desafio, pois não se limita a uma proposta de ampliação do ensino, mas de manter sua qualidade e até mesmo repensar os formatos tradicionais de educação. Perceber as novas necessidades e se adequar tanto no tempo em que as pessoas têm disponível para estudar como na forma como aprendem.

Por isso, listaremos 5 pontos pertinentes sobre suas características positivas quando debatemos sobre as temáticas como democratização X segregação de conhecimentos para o ensino superior.

#1 Oportunidade

Há 10 anos pouco se falava sobre oportunidades de ensino para graduações, quanto mais pós graduações. Não havia tanto incentivo governamental e nem pelas próprias instituições privadas. Os vestibulares para as principais universidades eram verdadeiramente concorridos e todos ficavam a postos esperando os listões que eram divulgados pelos jornais. Para determinados cursos era necessário prestar o vestibular diversas vezes.

Atualmente ainda encontramos essas realidades, principalmente para cursos como medicina ou direito. Porém, através da EAD foi possível ampliar a oferta tanto de cursos quanto de vagas. E para aqueles que sempre viram a graduação como um sonho distante, hoje já é possível realizá-lo. São resultados do advindo de novas formas de financiamento e bolsas, mas também através da promoção da EAD.

#2 Curadoria

Mesmo já comprovado a eficácia da educação a distância ainda há preconceito sobre seu formato. Diversos especialistas apontam principalmente questões sobre qualidade de materiais digitais e metodologias de aulas virtuais. Há fragilidades na jornada educacional para aqueles que optam pela EAD, não há dúvidas disso. Não é fácil trilhar este caminho muitas vezes sem nem conhecer seus colegas e professores.

No entanto, as universidades especializadas em educação a distância estudam e buscam as melhores alternativas para quem deseja alcançar seu diploma nesse formato. Mesmo com toda a informação e conteúdos na internet, o trabalho de curadoria é fundamental e é bem feito por instituições sérias. O contato certamente não será o mesmo nos formatos virtuais do que nos presenciais, mas o material terá a mesma qualidade e em alguns casos será até melhor.

#3 Índice educacional

Pelos méritos da EAD foi possível alterar nossos índices educacionais relacionados ao acesso e conclusão do ensino superior, mas ainda temos como fator problemático a evasão escolar. Ainda que tenhamos um decréscimo na busca por cursos presenciais, houve aumento significativo para acesso de cursos na modalidade a distância.

Somos um dos piores países em formação superior. Um povo educado exercita sua cidadania com mais consciência e criticidade. Participa ativamente de sua comunidade e contribui com seus aprendizados, seja no campo profissional, familiar ou de outra formas.

#4 Novo olhar

O ensino superior, bem como outros cursos ou experiências provocam inquietações e vontade de explorar novos contextos. Com isso, surgem oportunidades para mais pesquisas e aberturas para novas profissões. Estudar e continuar estudando provocam não só transformações pessoais como também transformações para a comunidade.

Ter um novo olhar para si, seu trabalho, carreira e afins. Querer se movimentar para mudar e assumir novos desafios em função das oportunidades que surgem com o advindo do ensino superior.

#5 Transição

A tecnologia transforma a sociedade, seu modo de viver e conviver. Com a educação não é diferente. A educação a distância se torna cada vez mais possível e viável tanto em função da tecnologia como do estilo de vida das pessoas. Deste modo, os cursos híbridos provavelmente serão tão utilizados e bem aceitos quanto cursos tradicionais. A EAD tem sido um período de transição para novos modelos de ensino, sejam eles híbridos, invertidos ou em outros formatos.

Tecnologias imersivas como virtual, aumentada e mista remodelarão o que definimos como “cursos tradicionais” e estimularão novos estilos de ensino e aprendizado. Sejam eles presenciais ou virtuais ou em alguma outra dimensão que ainda desconhecemos.


A educação, por mais que muitos não acreditem, está sempre em transformação. Não seria diferente agora. Ainda aprendemos muito com o advindo da educação a distância, mesmo não sendo algo novo e inédito.

Cada vez mais educadores se preparam para esse modelo de ensino e estudantes se tornam adeptos em função de seus estilos de vida. Antes de criarmos tantos pré conceitos é preciso abrir espaço para debates e discussões. Estudar e compreender seus efeitos e consequências para a sociedade pós moderna.

Fonte da imagem de capa: Pexels