EAD 2024: O futuro é tecnológico, mas também socioemocional
O ensino a distância teve um “boom” de crescimento nos últimos anos, principalmente em decorrência das iniciativas por mais autonomia e flexibilidade no processo de ensino e aprendizagem.
O ano de 2023 foi marcado por transformações bastante significativas em termos de inovações educacionais, por exemplo a inserção de inteligências artificiais como o ChatGPT, que ressignificou a forma com que interagimos em sociedade. E se esse crescimento se consolidar, ainda mais inovações tendem a ganhar espaço nas salas de aula de 2024.
A sociedade cada vez mais desafia a educação, seja através da digitalização imediata dos processos, hibridização dos currículos e modalidades de trabalho, e necessidades emergentes em relação às competências e habilidades dos novos profissionais do mercado. Tudo isso, somados à vontade de “fazer diferente”, movem as Instituições de Ensino Superior na busca por inovar ao mesmo tempo que elevam a qualidade da formação que vem oferecendo.
O surgimento de tecnologias tão disruptivas como as IA’s, e sua assimilação nos processos educacionais de forma consideravelmente rápida, são questões que vem ganhando bastante espaço nos fóruns e espaços acadêmicos.
Afinal, o chat GPT por exemplo é uma novidade que emergiu no cotidiano dos estudantes e rapidamente ganhou fama nas redes sociais, como Instagram e TikTok. Então seria inútil que as escolas e instituições tentassem proibir o uso ou criassem regras para banir essas tecnologias - assim como foram feitos com os celulares por muitos anos.
Ao invés disso, apropriar-se dessas inovações são estratégias muito melhores e com resultados mais eficientes, além de gerar uma aproximação maior do estudante com o conteúdo.
Entretanto é inegável que exista um medo e certo receio principalmente dos professores. Tudo isso porque se tornou cada vez mais difícil determinar se o aluno copiou a tarefa de alguma IA ou pensou por ele mesmo (pensando que os algoritmos se desenvolvem de tal forma que parece humanamente impossível acompanhar).
Qualidade como prioridade: O futuro da educação está na união
Uma vez que entendemos que essas inovações já não são mais apenas tendências mas sim realidades, passamos a não mais pensar apenas em estratégias mas em ações práticas para evitar uma total robotização dos processos educacionais.
Como por exemplo: Se eu enquanto educador de história quero deixar uma tarefa para meus alunos realizarem em casa, ao invés de um questionário com diversas perguntas de resposta fácil (retiradas de um livro ou algo parecido), posso propor que ele assista determinado filme, proponha um número x de questionamentos relacionados ao conteúdo (aliado ao filme assistido) para resolução em conjunto ao vivo.
Essa ideia vai de encontro justamente ao que esse bloco se propõe a falar: As Instituições não podem apostar apenas nos números e deixar de lado a qualidade.
Inclusive um assunto que vem ganhando cada vez mais força nas discussões sobre qualidade do ensino é a relação direta disso com a quantidade de alunos em uma mesma turma. Vamos pensar juntos:
Enquanto ser humano quanto mais tarefas diferentes você tiver para cumprir em um prazo curto, e quase que simultaneamente, as chances de você realizá-las de forma medíocre é grande, não é mesmo? Então como podemos esperar que o professor se dedique 100% a uma formação excepcional se estamos obrigando-o a ensinar o mesmo conteúdo, de inúmeras formas e abordagens diferentes, ao mesmo tempo?
Segundo o Instituto Universitário de Lisboa, os projetos do Instituto de Educação da Universidade de Londres têm evidenciado que as turmas com menor dimensão, ou seja, com um número menor de alunos, alteram positivamente os resultados de desempenho acadêmico desses estudantes. E para além disso, facilitam também a organização pedagógica dos docentes que conseguem personalizar mais as suas dinâmicas pedagógicas e interagir com os seus alunos de forma mais assertiva.
A educação tem passado por momentos complicados e isso não é novidade para ninguém. Quando falamos em crise econômica e dificuldades financeiras então, essa realidade bate ainda mais na porta. Mas não é por isso que o processo de ensino precisa sair perdendo em qualidade.
É claro que pegar uma turma com 50/60 alunos e dividi-la em duas será sinônimo de ainda mais custos, e é por isso mesmo que chegou a hora de buscar por soluções. Uma delas é justamente o EAD: já pensou no quanto uma sala virtual custa menos para a sua IES do que estruturas físicas?
Construindo uma EAD de qualidade: Censo da Educação Superior de 2023
Engana-se quem pensa que o Ensino a distância tem menos qualidade ou forma profissionais menos capacitados. Cada vez mais os estudantes buscam por formações mais flexíveis que mantenham o mesmo nível de educação comparado ao modelo presencial. Para evidenciar os resultados do ensino a distância no Brasil, anualmente a Associação Brasileira de Educação a Distância realiza um censo, com resultados coletados durante todo um ano.
Em novembro de 2023, a ABED organizou um evento online com foco em pautar o nível educacional do EAD oferecido no Brasil e trazer para o debate a sociedade geral. Durante uma semana - que envolvia o Dia Nacional da EAD, a associação realizou uma série de palestras e conversas online.
No primeiro dia foram apresentados alguns dos resultados obtidos pelo Censo da Educação de 2022 pela visão da Betina von Staa, diretora de ética e qualidade, responsável pela pesquisa desde 2015. Segundo ela, desde 2019 podemos observar um crescimento exponencial dos cursos de educação a distância ao mesmo tempo que gera dúvidas na população referente a qualidade, ou não, dessa modalidade de ensino.
Alguns dados bastante interessantes trazidos durante os encontros foram, por exemplo:
- 65% das Instituições de Ensino afirmaram que utilizam laboratórios virtuais nos cursos de graduação;
- Em relação às aulas ao vivo, mais de 87% das instituições disseram utilizar como recurso pedagógico.
Segundo Cassio Santos, Professor na Universidade de Lisboa e autor convidado do Censo da Educação de 2022, os alunos do EaD possuem um acesso maior e mais facilitado a recursos pedagógicos digitais, em relação aos estudantes da modalidade tradicional.
“Os alunos da educação a distância tem muito mais acesso ao material digital, e muitas vezes a eles físicos nos polos também. Além também de uma maior variedade de oferta de recursos educacionais dos cursos a distância em comparação com os presenciais. Ou seja, os alunos do ead tem uma grande vantagem de possuírem uma gama de oferta mais considerável”
Outro ponto trazido pelo professor foi em relação a percepção das instituições quanto a eficácia da aplicação de metodologias ativas nas aulas. Segundo dados do Censo, 100% delas percebem a utilização desses recursos como fundamentais no envolvimento e engajamento dos alunos com os conteúdos e mais de 97% delas apontaram que as metodologias ativas auxiliam os estudantes no desenvolvimento de habilidades práticas e criativas. Dentre elas, destacaram-se:
- Estudo de caso;
- Resolução de Problemas;
- Aprendizagem Baseada em Projetos;
- Sala de Aula Invertida.
Melhores práticas para o ensino a distância
No dia Nacional da Educação a Distância a temática da palestra da ABED focou bastante nas boas práticas do EAD. A consultora Sandra Kina pontuou um assunto bastante significativo que ainda gera algumas controvérsias quando falamos em ensino a distância: Aula remota não é EaD!
“O EaD é uma metodologia elaborada por profissionais altamente capacitados, desde o designer instrucional que organiza todo o conteúdo e transforma ele em uma linguagem adequada, os produtores de vídeo, as atividades de colaboração e interação. Então é muito mais do que apenas ligar uma câmera e sair falando”
Essas informações trazidas pela Sandra vão muito ao encontro ao ponto amplamente defendido por nós desde o desenvolvimento do Elos! Um ensino a distância de qualidade pede por recursos pedagógicos que possibilitem a interação, colaboração e criatividade durante as aulas. Afinal, ficar falando por horas um conteúdo que poderia ser lido, não é educação de qualidade!
Tendências para o futuro da educação a distância
Listados na Revista da Educação, algumas das tendências educacionais e pedagógicas para 2024 (e os próximos anos) seguem a mesma lógica dos anos anteriores de evidenciar a importância da inserção de novas tecnologias em sala de aula. Obviamente que dando ênfase àquelas com impacto positivo e intencionalidade pedagógica, ou seja, que são pensadas para serem facilitadoras do processo de ensino e aprendizagem, complementando-o.
Segundo a publicação, o ano de 2024 será marcado pela consolidação das ideias que vinham sendo discutidas anteriormente. Confira abaixo algumas ideias trazidas por Débora Garofalo, eleita uma das 10 melhores professoras do mundo pelo Global Teacher Prize.
Tecnologia como objeto e ferramenta de ensino
As Instituições vêm incorporando progressivamente as ferramentas digitais às experiências de aprendizagem, incluindo dispositivos tecnológicos que oferecem acesso rápido a informações e recursos educacionais. Além disso, a realidade virtual e aumentada se torna uma realidade, proporcionando experiências imersivas e interativas aos estudantes.
Nos próximos anos, a inteligência artificial vai desempenhar um papel crucial na educação, em que os sistemas serão capazes de se adaptar às necessidades individuais de cada aluno, possibilitando maior personalização e que cada aluno possa avançar em seu próprio ritmo.
Aprendizagem Socioemocional
Reconhecendo que a educação vai além do conhecimento cognitivo, as IES estão cada vez mais conscientes da importância do bem-estar emocional tanto dos educadores quanto dos estudantes. A partir disso, começam-se os movimentos para que se implemente programas que visam fortalecer a inteligência emocional, empatia, resiliência e capacidade de comunicação dentro do currículos dos cursos. Entendendo, portanto, que a aprendizagem socioemocional será uma das grandes responsáveis pelo sucesso profissional desse aluno!
Educação inclusiva
Não apenas na educação, mas na sociedade como um todo, as pautas de inclusão vêm ganhando cada vez mais espaço. E não é para menos, afinal já passou da hora de darmos luz às pessoas que, por muito tempo, tiveram suas necessidades invisibilizadas. A educação inclusiva será uma pauta frequente para este ano, porque segundo Débora
“A diversidade é uma realidade em nossas escolas e na nossa sociedade, sendo essencial que todos os estudantes se sintam acolhidos, integrados e que tenham acesso a uma educação de qualidade com equidade. Portanto, é fundamental que os gestores e professores estejam atentos às necessidades individuais de cada estudante, promovendo a inclusão, igualdade de oportunidades e redução das desigualdades.”
Integração da Tecnologia
Por fim, a professora aponta que uma das tendências mais latentes para este ano é a união da tecnologia com os processos humanizados. Tudo fará parte do mesmo sistema, uma vez que o conjunto formará o estudante através da personalização, desenvolvimento de habilidades socioemocionais, colaboração entre todos os envolvidos no processo educativo, valorização da saúde mental e utilização das tecnologias de forma consciente.
“Como professores e gestores, é nosso papel estarmos preparados para essas transformações, buscando constantemente atualização e adaptação às novas demandas.”
A geração que está indo fazer a sua escolha de curso de graduação é do imediatismo, intermediado pela tecnologia e que, em sua grande maioria, substituiu o bloco de papel pelo planner digital! Então engana-se quem pensa que o mesmo modelo de currículo utilizado há cinco ou dez anos atrás irá surtir algum efeito. Pelo contrário!
É inegável que o futuro da educação está muito mais associado a processos flexíveis e tecnológicos, do que os engessados que a nossa geração se acostumou a aceitar como padrão. A nova, nativa digital e muito mais exigente em relação a sua própria formação (talvez justamente por ter na internet uma fonte inesgotável de informação e comparação) não aceita dedicar o seu tempo e recursos financeiros em um curso cuja instituição escolhe manter-se ultrapassada.